EUA e UE preparam reação a riscos tecnológicos

A União Europeia (UE) e os Estados Unidos estão elaborando planos para estreitar sua colaboração para enfrentar os riscos de investir em tecnologias delicadas, em países como a China, num momento em que desenvolvem novos instrumentos para fazer frente a um ambiente econômico cada vez mais hostil.

Os dois parceiros buscam alinhar seus enfoques de filtragem dos investimentos no exterior, “para evitar que o capital, o know-how e o conhecimento das empresas ocidentais respaldem os avanços tecnológicos de concorrentes estratégicos de uma forma que ameace a segurança nacional [de Washington e do bloco europeu]”, segundo versão preliminar mais recente do texto da declaração que será apresentada na reunião de alto nível que realizarão na semana que vem em Lulea, Suécia. 

Autoridades graduadas da UE e dos EUA querem usar a reunião do Conselho de Comércio e Tecnologia (TTC, nas iniciais em inglês), de 30 e 31 de maio, para fortalecer sua cooperação para enfrentar a ascensão assertiva da China e os desafios representados pela invasão da Rússia à Ucrânia. A reunião ocorre num momento em que a Comissão Europeia, o braço executivo da UE, planeja apresentar, em junho, uma estratégia de segurança econômica para o bloco. 

A UE vem tentando ajustar sua estratégia na direção da China. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expôs recentemente uma visão de redução do risco, e não do descolamento de Pequim – um realinhamento sutil do enfoque da Europa que a aproxima um pouco mais da posição mais linha-dura de Washington. Os EUA e o restante dos países do G-7, o grupo dos países mais industrializados, adotaram, desde então, os mesmos termos. 

Na esteira da invasão da Ucrânia, a segurança econômica se tornou prioridade para os países do G-7. Autoridades estão discutindo como coordenar melhor os instrumentos, o que inclui a filtragem dos investimentos e o controle das exportações, enquanto exploram novas alternativas de política pública disponíveis para enfrentar os riscos de segurança nacional representados por algumas nações. 

Em especial, a UE e os EUA, juntamente com países aliados, planejam apontar suas baterias para políticas práticas não pautadas pelo mercado – uma referência usada para descrever a China – em campos como chips tradicionais (em contraposição aos avançados) e prospectar medidas de cooperação para enfrentar essas políticas e seus efeitos distorsivos”, diz o texto preliminar da declaração. Ele ainda está sujeito a mudanças e precisa ser aprovado pelos países-membros antes de ser adotado na semana que vem. 

Washington e Bruxelas começaram a delinear a rede de empresas em terceiros países que se beneficiam de fundos de investimentos do governo ou controlados pelo governo, e as distorções infligidas por esses fundos. 

A reunião da semana que vem será a quarta sessão do TTC e será realizada num momento em que ambas as partes tentam enfrentar preocupações relacionadas à Lei de Redução da Inflação (IRA, pelas iniciais em inglês) do presidente dos EUA, Joe Biden, que instaura o enorme estímulo verde por meio de incentivos fiscais. Apesar dos atritos em torno da IRA – juntamente com as dificuldades em enfrentar outros pontos de impasse, como um novo arranjo sobre aço e alumínio -, a UE acha que suas relações com os EUA estão no caminho certo, disse uma alta autoridade do bloco. 

As duas partes também estão comprometidas em avançar na colaboração em tecnologias emergentes, entre as quais a inteligência artificial (IA), computação quântica e a próxima geração de telecomunicações sem fio (6G), ao mesmo tempo em que cooperam para evitar uma guerra por subsídios no setor de semicondutores. 

Nesse aspecto a UE e os EUA concluíram um mecanismo de transparência para compartilhar informações sobre o apoio do público ao setor de chips e um mecanismo conjunto de alerta precoce para desestabilizações da cadeia de suprimentos de semicondutores. 

“A UE e os EUA estão comprometidos em evitar uma guerra competitiva na área de semicondutores”, diz o texto preliminar. “O aumento dos investimentos em semicondutores na Europa apoia a resiliência das cadeias de suprimentos dos UA, e o aumento dos investimentos em semicondutores nos EUA apoia, da mesma forma, a resiliência das cadeias de suprimentos da UE.” 

Europa e EUA também pretendem aprovar a iniciativa de avançar na tentativa de mitigar os riscos da inteligência artificial (IA), e mencionaram, especificamente, a IA generativa. Grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, estão atualmente na berlinda, após o lançamento dessas ferramentas para o público. 

“Os recentes desdobramentos em IA generativa chamam a atenção para a oportunidade e a necessidade de enfrentar os riscos associados”, disse o texto preliminar. Em uma tentativa de alinhar a regulamentação da IA, as duas partes estão criando um grupo de especialistas para fixar a terminologia, cooperar em padrões e ferramentas e monitorar riscos do uso. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/05/24/eua-e-ue-preparam-reacao-a-riscos-tecnologicos.ghtml?:~:text=A%20União%20Europeia%20(UE)%20e,econômico%20cada%20vez%20mais%20hostil.

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