Briga entre EUA e a chinesa Huawei favorece Ericsson

Companhia sueca não enfrenta restrições impostas pelo governo americano à rival asiática e dispõe de equipamentos que outra concorrente, a Nokia, não tem para oferecer 

O esforço cada vez mais agressivo do governo dos Estados Unidos para cercear a chinesa Huawei está abrindo caminho para que a Ericsson lidere a implementação da tecnologia 5G ao redor do mundo. 

A empresa sueca está emergindo como a mais bem-sucedida na indústria de equipamentos para telefones celulares, cujo faturamento alcança anualmente quase US$ 80 bilhões. Segundo executivos e analistas, isso ocorre porque a Ericsson fabrica equipamentos avançados de que a Nokia ainda não dispõe e porque a Huawei enfrenta dificuldades com as sanções impostas pelos EUA. 

Enquanto seus competidores lidam com essas questões, a Ericsson avança após passar por uma dura reestruturação nos últimos anos, que resultou na volta da lucratividade. “O primeiro passo foi, sem dúvida, cumprido”, disse o diretor- presidente da Ericsson, Borje Ekholm. “O próximo passo é encontrar crescimento de longo prazo para a empresa.” 

A questão para a Ericsson é descobrir em quais novas tecnologias investir. A empresa testa equipamentos para diversos segmentos em que a supervelocidade do 5G promete ser relevante, como veículos autônomos. 

Washington está pressionando outros países a banir a Huawei de suas infraestruturas, argumentando que Pequim pode utilizar os equipamentos da empresa para espionar ou sabotar as comunicações locais. Tanto a Huawei como o governo chinês negam a possibilidade. Alguns governos e empresas de telecomunicações resistem à pressão americana, afirmando que a Huawei vende equipamentos de 5G de alta qualidade e custos baixos. Alguns governos da Europa dizem que suas agências de inteligência monitoram de perto suas redes de telecomunicações e podem administrar os riscos. 

No mês passado, a administração do presidente Donald Trump intensificou a pressão sobre a Huawei. A imposição de restrições à exportação tornou difícil para a empresa chinesa comprar microprocessadores desenvolvidos com tecnologia dos EUA, criando obstáculos à produção de equipamentos para o padrão 5G. 

Os americanos também buscam incentivar rivais da Huawei oferecendo empréstimos a operadoras de telecomunicações em países em desenvolvimento para que comprem equipamentos que não sejam fabricados pelos chineses. 

Em fevereiro, o secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, sugeriu que o país poderia adquirir participação na Ericsson ou na Nokia, ou em ambas, para “torná-las competidores formidáveis e eliminar preocupações sobre sua permanência” na infraestrutura dos países. A Casa Branca rapidamente refutou a ideia, com um assessor dizendo que o governo prefere uma abordagem de livre concorrência. 

Ekholm não quis dizer se a Ericsson teve discussões com os Estados Unidos sobre uma potencial participação em seu capital social. A empresa é fornecedora de equipamentos para as três maiores operadoras americanas: AT&T, Verizon e T- Mobile US. 

Com sede em Estocolmo, a Ericsson é um dos principais nomes da área de telecomunicações desde que Lars Magnus Ericsson a fundou como serviço de reparação de telégrafos, em 1876. No começo, a empresa produziu telefones de madeira e, anos depois, passou a fabricar celulares, até vender o segmento para a Sony, em 2011. No mercado de celulares, a Ericsson sofria com a concorrência das chinesas Huawei e ZTE, que produziam aparelhos semelhantes mais baratos. 

Quando Ekholm tornou-se diretor-presidente, em 2017, ele concluiu que a empresa estava inchada e deveria concentrar-se em produzir equipamentos de telecomunicações sem fio. O executivo vendeu segmentos na área de vídeo e serviços para operadores de TV a cabo, e cortou 23 mil empregos. 

A Ericsson contratou 5 mil pessoas para a área de pesquisa e desenvolvimento de equipamentos sem fio. Entre os produtos que desenvolveu está uma antena que capta e envia sinais com maior velocidade. Executivos de operadoras móveis afirmam que a tecnologia permite atender mais consumidores sem ter que levantar novas torres, um processo moroso e que custa dezena de milhares de dólares. 

De 2015 a 2019, a parcela da Ericsson na receita do mercado de infraestrutura para telefonia celular aumentou de 26,2% para 27%, segundo dados da consultoria Dell’Oro Group. A Huawei expandiu a liderança, de 27,5% para 30,7%, enquanto a Nokia viu um recuo de 24,4% para 19,2%. 

No ano passado, a Ericsson conquistou uma importante vitória ao se aliar à Huawei 

e ganhar contratos para fornecer tecnologia 5G às três maiores operadoras da China, segundo maior mercado de telecomunicações do mundo. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/06/03/briga-entre-eua-e-a-chinesa-huawei-favorece-ericsson.ghtml

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