BRICS : atores de peso no comércio internacional com o Brasil

Por Marcelo Zorovich

Este breve artigo lança luz à relevância das relações comerciais entre o Brasil e os seus parceiros dos BRICS. Conforme argumenta Baumann(1), este grupo de países apresenta trajetória peculiar e ganha relevância nas análises políticas, diplomáticas e econômicas internacionais. Dotados de ampla extensão territorial, observa-se assimestrias em vários de seus comparativos e indicadores, ou no grau de dependência do comércio externo para suas economias. Ademais, há inúmeras divergências referentes à articulação conjunta internacional manifestas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), ou em suas posições no G-20 financeiro. No entanto, Hurrel explica que há um desejo de promover uma ordem internacional mais representativa e justa visando a capacidade de contribuição para a gestão e governança regional ou global(2). Em conjunto, o acrônimo BRICS representa aproximadamente 43% da população global e 18% do PIB nominal mundial(3).
Para o Brasil, a relação comercial com estes países denota tal relevância, indicando que a dinâmica e a importância do comércio internacional com estes parceiros tem sido positiva no comparativo entre 2003 e 2012, atingindo volume superior a US$ 90 bilhões.

Os resultados com a China continuam como os mais expressivos e dependentes da ampla exportação de commodities e importação de manufaturados, mas já com uma intenção dos chineses em agregar valor aos seus produtos vendidos ao Brasil(4). Como parte da estratégia de Pequim, o Brasil segue como um expoente celeiro fornecedor de parte da matéria-prima para abastecer a “faminta indústria chinesa”. Diferentemente do que se observou nas últimas décadas, as previsões anunciadas no último Plano Quinquenal de Pequim sinalizam uma perspectiva média de 7% com respeito ao crescimento anual da RPC para o período que compreende 2012-2020. Neste ínterim, o novo presidente do país, Xi Jinping, tem adotado um discurso contra a corrupção e a favor de reformas estruturais necessárias para este novo patamar de desenvolvimento. Não obstante ainda exista estímulo para investimento em infraestrutura, moradia e novas unidades fabris, a liderança do partido comunista preocupa-se com o equilíbrio entre investimento e consumo interno, observando que sua população está envelhecendo e que a política de um filho é um quebra-cabeça social. Para a China, as medidas necessárias concentram-se em maior liberalização financeira, competitividade com menos protecionismo e reformas fiscais(5). O cenário é distinto do período em que Deng Xiaoping engajou a República Popular da China em reformas políticas e econômicas (1978) depois do isolacionismo. O então líder do “Império do Meio” almejava quatro importantes realizações, notadamente nos setores ligados à agricultura, indústria, ciência e defesa nacional. As “quatro modernizações”(6) de Deng contribuíram, associadas à outras medidas por parte dos governos seguintes e atreladas à mudanças na ordem política e econômica internacional, para colocar a China como a 2ª maior potência econômica, desbancando o vizinho Japão, motor econômico das décadas anteriores(7). Do isolacionismo à abertura econômica(8), a RPC se desenvolveu nas quatro esferas acima mencionadas e a trajetória com o Brasil, sobretudo na última década, tem favorecido uma relação comercial de engajamento, ou como alguns autores definem, de interdependência(9). Keohane e Nye(10) sugerem que a relação de interdependência reflete uma relação de poder e que pode ser por vezes definidia como “interdependência vulnerável”. Apesar dos resultados positivos no comparativo de 2003 a 2012, o último ano mostrou pela 1ª vez uma retração de 7% nos volumes comercializados frente ao ano de 2011(11).
Com respeito à Índia, observa-se que sua economia fechada da década de 80 também passou por processos de reformas internas nas décadas seguintes. Conforme análise de Oliveira, Leão e Chernasky(12), houve uma liberalização mais gradual e lenta a partir 1991, com redução das barreiras tarifárias e não-tarifárias das importações e aumento dos programas de promoção às exportações, com olhos à competitividade externa do país(13). Assim como para a Índia, tal período foi fundamental para o Brasil. No caso brasileiro, explicam os autores, após período de liberalização entre 1991 e 1999, o país procurou redirecionar sua “ estratégia de abertura comercial por intermédio da mudança do regime cambial”, somada à “implementação de instrumentos de incentivos à exportação”. Mesmo no período que antecedeu a inauguração do Plano Real, entre 1991 e 1993, as políticas de liberalização do comércio faziam com que já se pudesse observar um “rápido movimento de eliminação da estrutura de proteção da indústria por meio da redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias de importação”. No que diz respeito ao comércio bilateral, a Índia já é o 2º maior destino das vendas do Brasil entre os BRICS, havendo importante contribuição por parte do açucar e do petróleo em termos de exportação(14). A meta dos governos brasileiro e indiano é aumentar o volume de negócios para US$ 15 bilhões(15) em 2015, frente aos atuais quase US$ 10 bilhões.
Referente à “velha nova Rússia de Putin”(16), “herdeira de grande parte do patrimônio político, militar e econômico do império soviético”(17) , observa-se que o país segue em busca de importantes ajustes durante estas duas últimas décadas após o colapso do Império Soviético (1991)(18). Seja pela reconfiguração de seu espaço de influência no Leste Europeu ou na Ásia Central, ou pela dependência de sua política de mão de ferro atrelada ao petróleo e gás, a Rússia também enfrenta a necessidade de maior competitividade com uma índústria pouco diversificada e um cenário de envelhecimento populacional, o que sugere novas ações por parte do Kremlin.
A procura pela modenização tecnológica, a recente entrada na OMC (2012)(19) , a necessidade de melhor governança e as últimas visitas diplomáticas visando maior aproximação com o Hemisfério Ocidental parecem fazer parte de tais ações. A chancela da cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU)(20) , assim com a vizinha China e os 3 outros membros permanentes, permite-lhe um status almejado pelos demais parceiros dos BRICS. Com os russos, cujo PIB per capita é o mais elevado entre os países dos grupo, ressalta-se a realização última Reunião da Comissão de Alto Nível de Cooperação Brasil-Rússia(21) que foi realizada no início deste ano. Apesar do fluxo comercial entre os países ser limitado a produtos de baixo valor agregado, dos resultados desta reunião derivaram intenções e acordos de maior cooperação científico-tecnológica.
Por fim, no que diz respeito à mais nova integrande dos BRICS(23), conforme Filho(22), apesar de um histórico de encontros e desencontros ao longo da história das relações entre África do Sul e Brasil, a última década mostrou-se mais favorável à cooperação coordenada em âmbito multilateral. Entre tais aspectos, encontra-se o comércio. Não obstante seja um mercado cujas comparações em volume e tamanho sejam limitadas frente aos demais parceiros dos BRICS(23) , a entrada do país trouxe uma expansão geográfica em momento de democratização da governança global, além de ser uma voz de peso econômico ou porta de entrada para a África(24) .
Em resumo, apesar da predominância do comércio com a China, registra-se crescimento dos fluxos comerciais entre o Brasil e todos os seus parceiros dos BRICS entre 2003 e 2012, cuja relevância pode ser observada no âmbito das relações políticas e econômicas das relações internacionais(25).

Fontes:
 1. BAUMANN, R. (org.). “O Brasil e os demais BRICs - Comércio e Política”. Brasília, DF: Cepal. Escritório no Brasil/IPEA, 2010.
 2. HURELL, A. “Hegemonia, liberalismo e ordem global”. In: HURREL, A. et al. Os BRICS e a ordem global. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p. 10.
 3. Fundo Monetário Intrnacional; Banco Mundial, 2013.
 4. CEBC, 2013.
 5. Ibid.
 6. BEST, A.; HANHIMAKI, J.M.; MAIOLO, J.A.; SCHULZE, K.E.. International History of the twenthieth century and beyond. Routledge, New York. 2008
 7. SAKURAI, C. Os Japoneses. Editora Contexto, 2007.
 8. SHEN, R; MANTZOPOULOS, V. The Political Economy of China´s Systemic Transformation. Palgrave, 2011.
 9. COOPER, R. Economic interdependence and Coordination of Economic Policies. In Jones and Kenen, 1985.
 10. KEOHANE, R.; NYE Jr. , J.S. Power and Interdependence: World Politics in Transition. Boston: Little, Brown, 1977.
 11. CEBC, 2013.
 12. BAUMANN, R. (org.). “O Brasil e os demais BRICs - Comércio e Política”. Brasília, DF: Cepal. Escritório no Brasil/IPEA, 2010.
 13. MOREIRA, M.M. India: Latin America´s next big thing ?Special report on integration and trade. Inter-American Development Bank, 2010.
 14. Câmara de Comércio Brasil-Índia. http://www.ccbrasilindia.org.br
 15. MDIC, 2013.
 16. WORTH, O. Hegemony, International Political Economy and Post Communist Russia.Ashgate, 2005.
 17. JUDT, T. Pós-guerra - Uma História Da Europa Desde 1945. Objetiva, 2008.
 18. BEST, A.; HANHIMAKI, J.M.; MAIOLO, J.A.; SCHULZE, K.E.. International History of the twenthieth century and beyond. Routledge, New York. 2008
 19. WTO. http://www.wto.org
 20. UNSC. http://www.un.org/en/sc/
 21. Itamaraty. MRE.
 22. FILHO, P.P. África do Sul e Brasil: diplomacia e comércio (1918-2000). Revista Brasileira de Política Internacional, vol.44, 2001.
 23. APEX, África do Sul. Oportunidades Comerciais, 2011.
 24. O Brasil, os BRICS e a agenda internacional. Fundação Alexandre Gusmão. Brasília, 2012.
 25. GILPIN, R Global Political Economy. Understanding the International Economic Order. Princeton University Press, 2001.

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