Defenestrado há três meses do cargo de premiê britânico após uma avalanche de crises, Boris Johnson disse que não entrará na disputa à liderança do Partido Conservador que poderia reconduzi-lo à função.
Assim, seu antigo ministro das Finanças, Rishi Sunak, ganha ainda mais chances de assumir o posto ao qual Liz Truss, após meros 44 dias, renunciou. Ele, que havia perdido as últimas eleições indiretas para a agora ex-primeira-ministra, confirmou sua candidatura também neste domingo (23).
“Quero arrumar nossa economia, unir nossa legenda e ser bem-sucedido pelo nosso país”, afirmou em nota —elogiado pelo pacote de medidas que lançou em combate à crise da Covid, ele foi um dos maiores críticos ao plano econômico de cortes de impostos e novos auxílios que levaram à queda de Truss.
Segundo a BBC, Sunak é o atual favorito da corrida —ele conta com mais de 150 endossos de membros do partido, mais do que os cem necessários para começar na disputa. Boris, por sua vez, tinha apenas 57 apoios públicos —ele alegava ter alcançado a marca de 102, no entanto.
O ex-premiê interrompeu as férias no Caribe e viajou a Londres na véspera. Ele não chegou a declarar formalmente a candidatura, mas havia dito a apoiadores que queria concorrer e que tinha o respaldo de sete ministros. À noite, ele se reuniu com Sunak para o que teria sido o primeiro encontro entre os dois em meses —a saída do então secretário do governo foi uma das que precipitou a queda de Boris.
Saiu da reunião sem acordo com ele nem com a terceira colocada na disputa, Penny Mordaunt. Ministra da Defesa no governo de Theresa May e popular entre os membros da legenda, ela tem hoje 25 endossos.
“Existe uma grande chance de que eu tivesse sido bem-sucedido nas eleições entre os membros do Partido Conservador e que eu de fato estivesse de volta à Downing Street na sexta”, afirmou Boris ao anunciar sua retirada da corrida, citando o endereço da sede oficial do governo britânico.
“Mas ao longo dos últimos dias cheguei infelizmente à conclusão de que não seria a coisa certa a fazer. Não se pode governar de forma efetiva sem que haja um partido unido no Parlamento”, prossegue ele no texto. “Temo que o melhor seja não levar minha nomeação adiante e me comprometer a apoiar quem quer que vença. Acredito que tenho muito a oferecer, mas sinto que este simplesmente não é o momento ideal.”
Apesar da retirada estratégica, a nota indica que Boris —que finalizou seu discurso de despedida ao Parlamento com a expressão “hasta la vista, baby”— não desistiu de todo do posto de primeiro-ministro. “Acredito estar em boa posição para dar ao Partido Conservador uma vitória em 2024”, escreve ele.
Os aspirantes à liderança do Partido Conservador devem enviar seus nomes para o grupo que organiza a disputa interna até esta segunda-feira (24). Para que sejam aceitos, precisam receber o apoio de ao menos cem parlamentares da sigla, sendo que cada um deles só pode endossar um líder.
Como a legenda possui 357 cadeiras, só três nomes têm chances de avançar para a votação. Nesse caso, o menos votado é eliminado, e a dupla restante passa por outra disputa. Nos dias seguintes, a decisão passa para os cerca de 200 mil filiados ao partido, que poderão votar pela internet até a sexta seguinte.
Existe, porém, a possibilidade de que só um candidato atinja o apoio de cem parlamentares. Este será, então, declarado novo líder dos conservadores e, consequentemente, novo premiê na própria segunda.