Bloqueio da Amazon por FedEx prenuncia guerra de entregas

A FedEx enfim parece ter compreendido que é fútil classificar como ameaça “fantasiosa” as aspirações da Amazon no segmento de entregas. Agora, ela está envolvida em uma guerra aberta com a companhia que parece ver cada vez mais como rival.
A FedEx não vai renovar o contrato de entrega terrestre da Amazon, que expira no final deste mês, anunciou a empresa em um comunicado divulgado inicialmente pela Bloomberg News na quarta-feira (7).
Isso se segue a um anúncio em junho de que a FedEx deixaria de prestar serviços de entregas aéreas à Amazon nos Estados Unidos.
O curioso é que, quando do anúncio anterior, a FedEx fez questão de enfatizar que a “decisão estratégica” de suspender seu relacionamento com a Amazon nas entregas aéreas não afetava outras unidades de negócios, como as operações terrestres e internacionais.
É difícil para mim acreditar que a FedEx tenha simplesmente decidido tomar prumo e assumir linha mais duras quanto a preços junto à Amazon. A companhia fez novas revelações em seu balanço anualsobre o desenvolvimento de capacidades de entrega direta pela Amazon que podem fazer dela uma concorrente. A decisão pode ser uma tentativa de colocar a Amazon em seu devido lugar.
A situação me faz pensar nas guerras de streaming. Da mesma forma que as empresas tradicionais por anos se satisfizeram em compensar a queda nas vendas de DVD por meio da venda de licenças à Netflix, a FedEx e a rival United Parcel Service desfrutaram dos frutos financeiros da demanda florescente por entregas relacionadas ao comércio eletrônico criada pela Amazon.
Mas agora a FedEx parece estar acordando para o fato de que esse relacionamento jamais foi uma via de mão dupla. Como as empresas de mídia que estão retirando seu conteúdo da Netflix e lançando serviços de streaming próprios, a FedEx já não parece ávida por fornecer à Amazon uma base valiosa sobre a qual construir um serviço logístico rival. A questão é determinar se já não é tarde demais para virar o jogo contra a Amazon.
Embora a Amazon esteja agindo agressivamente para criar centros de distribuição, criar uma força de trabalho para entregas locais e arrendar aviões de carga, sua rede ainda não está pronta para arcar com toda a carga.
A empresa anunciou no mês passado que gastou mais que os US$ 800 milhões (R$ 3,1 bilhões) que havia planejado no segundo trimestre, para oferecer entregas com prazo de um dia para os membros de seu serviço Prime.
A campanha para acelerar entregas foi “um choque no sistema” de sua rede de distribuição e transporte, e houve alguns tropeços em termos de produtividade e estoques, disse o vice-presidente financeiro Brian Olsavsky em conversa com analistas.
A empresa também precisa encarar o risco de escassez de pilotos e de greves nas demais empresas de transporte que usa em suas operações cada vez maiores de carga aérea. Sem a FedEx como reserva, a confiabilidade da rede própria de distribuição da Amazon será submetida a um teste mais sério.
Isso posto, não estou convicto de que a Amazon realmente queira ou precise desenvolver uma rede de escala semelhante à da FedEx ou UPS. Ela já desordenou a maneira pela qual essas empresas fazem negócios, forçando-as a investir bilhões na atualização de suas redes para lidar com os prazo de entrega cada vez menores e com o grande volume de pacotes do comércio eletrônico.
Enquanto as operações logísticas da Amazon não estiverem prontas para funcionar sozinhas, ela pode confiar na UPS e nos correios. E como a FedEx mesma diz, a Amazon só responde por 1,3% de sua receita.
A FedEx não pode abrir mão do comércio eletrônico inteiramente, porém, e, dada a concorrência feroz da Amazon, estou muito cético em que Walmart, Target ou qualquer outra empresa venham a ser clientes muito mais fáceis, no que tange a pressionar por preços mais baixos e prazos menores.
Mais ou menos como na batalha pelo domínio do streaming, parece pouco provável que haja só um vencedor na batalha da logística do comércio eletrônico, mas muita gente sairá perdendo, especialmente em termos de margem de lucro.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/bloqueio-da-amazon-por-fedex-prenuncia-guerra-de-entregas.shtml

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