A China ameaçou os EUA e seus aliados da região da Ásia-Pacífico de retaliação caso haja a instalação de mísseis de médio alcance americanos nesses países. Pequim citou especificamente Austrália, Japão e Coreia do Sul.
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O Ministério das Relações Exteriores chinês informou, em nota na noite de segunda-feira, que o país “não vai assistir passivamente” a tais ameaças, instando os EUA a evitar uma escalada das tensões. Um funcionário do Ministério disse ontem, em separado, que os três aliados dos EUA devem “ter prudência” e que a instalação de tais armas não “serve aos interesses de segurança nacional desses países”.
Os comentários ressaltam a dificuldade enfrentada pelo governo do presidente Donald Trump em seus esforços para se contrapor à capacidade em matéria de mísseis da própria China na região, depois de os EUA se retirarem formalmente na semana passada do Tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance (INF, de Intermediate-Range Nuclear Forces) com a Rússia. Qualquer país que aceite os mísseis se arrisca a sofrer retaliações diplomáticas e econômicas de Pequim – todos os três aliados dos EUA citados têm a China como seu maior parceiro comercial.
O premiê australiano, Scott Morrison, descartou na segunda-feira a possibilidade de receber bases de mísseis americanas, depois que o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse que era a favor de instalar mísseis americanos na Ásia em alguns meses. A Coreia do Sul já sofreu um golpe comercial da China depois de concordar, em 2016, em receber o sistema de mísseis antibalísticos dos EUA Terminal High Altitude Area Defense (Thaad), desenvolvido pela Lockheed Martin, para se defender da Coreia do Norte.
“A China não ficará de braços cruzados vendo nossos interesses sendo comprometidos”, disse a porta-voz do Ministério chinês na nota. “Mais do que isso, não permitiremos que nenhum país provoque problemas à nossa porta. Tomaremos todas as medidas necessárias para proteger interesses de segurança nacional.”
Fu Cong, diretor do Departamento de Controle de Armas do Ministério chinês, disse que a iniciativa dos EUA terá “um impacto negativo direto sobre a estabilidade estratégica mundial”, segundo relatou a agência Associated Press, citando um informe do diretor. Ele mencionou especificamente Austrália, Japão e Coreia do Sul.
Pelo Tratado INF, de 1987, EUA e Rússia concordavam em não instalar mísseis balísticos e de cruzeiro baseados em terra com alcance de 500 a 5.500 quilômetros, nucleares ou convencionais. O governo Donald Trump retirou os EUA formalmente do acordo depois de reclamar de violações da Rússia e de manifestar o desejo de incluir a China em um novo tratado.
Enquanto a China é capaz de atingir vários aliados e territórios americanos com mísseis de médio alcance instalados em suas costas, as opções dos EUA são limitadas a aliados e ao minúsculo território de Guam. Segundo o Ministério chinês, qualquer instalação dos EUA fora de suas próprias fronteiras mostrará que “seu objetivo será aparentemente ofensivo”.
O “The Global Times”, jornal nacionalista do Partido Comunista da China, declarou que os EUA arriscavam-se a criar “o
caos geopolítico” com qualquer instalação de mísseis. “Seu impacto será muito mais sério que o do Thaad na Coreia do Sul, porque mísseis de médio alcance são, incontestavelmente, armas ofensivas”, disse o jornal em editorial no domingo. “Qualquer país que aceite instalações dos EUA estará contra a China e a Rússia, direta ou indiretamente, e atrairá fogo contra si mesmo.”