BC dos EUA retoma discussão sobre compra de ativos

Os membros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) retomaram as discussões sobre suas compras de títulos do Tesouro e lastreados em hipotecas em sua reunião de política monetária do início deste mês, de acordo com a ata da reunião divulgada nesta quarta-feira (25). 

Desde junho, o Fed vem comprando US$ 80 bilhões por mês em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos hipotecários, líquidos de resgates. As autoridades consideraram maneiras de fornecer mais apoio à economia, ajustando essas compras ou fornecendo mais orientação sobre por quanto tempo podem continuar a comprar ativos. 

“Podemos chegar a um ponto de vista de que precisamos fazer mais nessa frente”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva em 5 de novembro. “Entendemos que há uma série de parâmetros que podemos mudar a composição, a duração, o tamanho, o ciclo de vida do programa”, afirmou. 

Mas Powell indicou conforto, por enquanto, com o programa atual, que ele descreveu repetidamente como robusto. 

As autoridades do Fed estão navegando em uma perspectiva especialmente incerta, que é obscurecida pelo risco de que a recuperação econômica desacelere nos meses de inverno (no Hemisfério Norte), em meio ao aumento dos casos de covid-19. Ao mesmo tempo, desenvolvimentos positivos sobre as vacinas aumentam a perspectiva de uma recuperação mais forte no final de 2021. 

Os analistas têm procurado pistas de que o Fed pode especificar que eles condicionarão suas compras a indicadores econômicos, como fizeram na reunião de setembro para as taxas de juros de curto prazo, quando estabeleceram limites que justificariam o fim da manutenção das taxas perto de zero. A próxima reunião de política do Fed será nos dias 15 e 16 de dezembro. 

“Daqui para frente, enquanto observamos como a economia está evoluindo, como as perspectivas estão evoluindo, podemos pensar em quaisquer ajustes que desejamos fazer nessas compras”, disse o presidente do Fed de Nova York, John Williams, em entrevista ontem. “Eu acho que elas estão servindo aos seus propósitos muito bem agora.” 

Títulos mais longos 

Outra opção para fornecer suporte adicional, seria ajustar a composição dessas compras para comprar rendimentos do Tesouro de prazo mais longo, como fizeram em seu programa de compra de ativos de 2012 a 2014. 

No entanto, vários funcionários do Fed disseram que o baixo nível de rendimentos do Tesouro de longo prazo torna isso desnecessário. E Powell disse que o programa atual, devido ao seu tamanho maior, estava reduzindo os rendimentos de longo prazo, mesmo sem visá-los explicitamente. 

Os bancos centrais tomaram medidas agressivas no início deste ano, depois que o vírus afetou a vida diária e forçou restrições sem precedentes à atividade econômica em tempos de paz. O Fed cortou sua taxa de referência para quase zero, em março, e comprou dezenas de bilhões de títulos do Tesouro e hipotecas por dia para desobstruir mercados disfuncionais. Abrandou gradativamente o ritmo dessas compras até junho, quando fixou os volumes mensais no nível atual. 

Programas de empréstimos 

O Fed também revelou uma série de programas de empréstimos de emergência na primavera, em parceria com o Departamento do Tesouro, que forneceu US$ 195 bilhões em dinheiro reservado pelo Congresso para cobrir perdas com empréstimos. 

Na semana passada, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que os programas não eram mais necessários, que o dinheiro seria melhor gasto em outras finalidades e que ele não tinha autoridade para estender os programas além de dezembro — provocando uma situação incomum de tensão com o Fed, que pressionou por uma extensão das medidas. 

O BC americano queria manter os programas de empréstimo como uma barreira, em face das ameaças contínuas representadas pela pandemia do novo coronavírus. 

Williams disse ontem que esses programas foram extremamente eficazes na reabilitação de mercados para empréstimos corporativos, de consumo e municípios. “Se víssemos a necessidade de usar esses tipos de mecanismos novamente, poderíamos reiniciá-los se for apropriado”, disse ele. 

Riscos da pandemia 

Os membros do Fed expressaram preocupação com a trajetória da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos em sua última reunião de política monetária, realizada nos dias 4 e 5 de novembro. “Embora outra paralisação econômica ampla seja considerada improvável, os participantes continuaram preocupados com a possibilidade de um novo ressurgimento do vírus, que poderia prejudicar a recuperação”, apontou o documento. 

A falta de estímulo fiscal por parte do governo também foi um fator considerado como preocupante por membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). 

“Vários participantes expressaram preocupação de que, na ausência de apoio fiscal adicional, as famílias de renda baixa e moderada talvez precisem reduzir seus gastos drasticamente quando suas economias se esgotarem”. 

Segundo os membros, também, há o risco de que o apoio fiscal atual e esperado para famílias, empresas e governos estaduais e locais possa não ser suficiente para sustentar os níveis de atividade nesses setores, enquanto alguns participantes observaram que um estímulo fiscal adicional maior do que o previsto pode ser um risco positivo. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/11/25/ata-do-fed-membros-do-bc-dos-eua-retomam-discussao-sobre-compra-de-ativos.ghtml

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