Banco Central Europeu combaterá mudanças climáticas

Ações em favor do meio ambiente devem entrar na revisão dos objetivos do Banco Central Europeu. Iniciativa abre debate sobre uso de política monetária no combate às mudanças climáticas. Christine Lagarde está em campanha para que a questão das mudanças climáticas faça parte de uma revisão estratégica dos objetivos do Banco Central Europeu (BCE), abrindo uma iniciativa global para tornar o meio ambiente uma parte essencial da formulação das políticas monetárias.
O plano enfatiza a meta declarada de Christine Lagarde como presidente do BCE de tornar as mudanças climáticas uma prioridade “crítica” para o BC europeu. Ela foi divulgada no momento em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cuja equipe foi aprovada oficialmente ontem pelo Parlamento Europeu, está prestes a apresentar seu primeiro pacote de políticas sobre o clima.
A agenda de revisão de políticas do BCE ainda não foi concluída, mas duas fontes disseram que o meio ambiente deve ser parte importante dessa primeira revisão abrangente dos objetivos da instituição desde 2003.
“Chegamos ao ponto em que o risco de prejudicar sua reputação se não fizer nada é grande o suficiente para que eles tenham que anunciar algo no fim da revisão. A grande questão é o quê”, disse Stanislas Jourdan, diretor do grupo ativista Positive Money Europe.
No entanto, Lagarde corre o risco de entrar em conflito com alguns BCs da zona do euro, que argumentam que as mudanças climáticas deveriam ser um assunto para os governos nacionais.
O presidente do Bundesbank, da Alemanha, Jens Weidmann, que também faz parte do conselho de diretores do BCE, disse no mês passado que encararia “de forma muito crítica” qualquer tentativa de redirecionar as ações de política monetária do BCE para enfrentar as mudanças climáticas.
Qualquer medida de Christine Lagarde também vai diferenciar o BCE de outros bancos centrais. O Federal Reserve dos EUA evitou questões ambientais em sua revisão estratégica, e seu presidente, Jerome Powell, disse recentemente ao Congresso que “as mudanças climáticas são uma questão importante, mas não principalmente para o Fed… Isso é para os representantes eleitos, não para nós.”
O Banco da Inglaterra (BC britânico) planeja incorporar questões de aquecimento global e políticas verdes em seus testes anuais de estresse dos maiores bancos britânicos, mas seu presidente, Mark Carney, não chega ao ponto de usar a política monetária para lidar com as mudanças climáticas.
Lagarde, que instituiu no BCE uma atenção maior às questões ecológicas desde que substituiu Mario Draghi, no início de novembro, deve ser questionada sobre seus planos pelo Parlamento Europeu, na próxima segunda-feira.
Numa carta recente ao eurodeputado verde Ernest Urtasun, Lagarde sugeriu que as questões climáticas podem fazer parte da revisão estratégica do BCE, que, segundo ela, “constituirá uma oportunidade para refletir sobre como abordar as considerações de sustentabilidade dentro de nossa estrutura de política monetária”.
François Villeroy de Galhau, presidente do Banco Central da França e também membro do Conselho de Governadores do BCE, afirmou que apoia a iniciativa ambiental de Lagarde.
Ele disse ao “Financial Times” que, ao aumentar os preços do setor de energia e reduzir o crescimento econômico, o aquecimento global pode causar um “choque estagflacionário”, o que significa que ele “já faz parte do nosso mandato de estabilidade de preços”.
Há sinais de que as autoridades da União Europeia querem ir mais longe na utilização da regulamentação bancária para enfrentar questões ambientais. Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia, disse ao “Financial Times” que pretendia analisar um corte nos encargos de capital impostos aos bancos no caso de empréstimos favoráveis a questões climáticas.
Numa carta que será publicada hoje, mais de 150 acadêmicos, economistas, sindicalistas e ativistas ambientais vão pedir a Lagarde que o BCE faça mais para proteger o clima.
“Sem mais nenhum atraso, o BCE deve se comprometer a eliminar gradualmente de suas carteiras os ativos com alto nível de emissões de carbono, a começar pelo desinvestimento imediato em ativos relacionados ao carvão”, diz a carta, que tem entre seus signatários Adair Turner, ex-chefe do órgão de fiscalização financeira do Reino Unido, e Francesco Papadia, ex-diretor geral de operações de mercado do BCE.
A decisão do BCE de comprar bônus de setores intensivos em carbono e ligados a combustíveis fósseis, como parte de seu programa de aquisição de ativos de 2,6 trilhões de euros, é “particularmente chocante”, segundo a carta. “Os critérios de impacto climático devem ser usados na triagem de todos os ativos atualmente.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/11/28/lagarde-quer-que-bce-atue-no-combate-as-mudancas-climaticas.ghtml

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