Expansão nos EUA continua sólida

A expansão econômica dos Estados Unidos continuou sólida no início do quarto trimestre, embora alguns sinais apontem para gastos mais fracos dos consumidores neste fim de ano.
Relatórios do Departamento do Comércio deram uma amostra inicial das tendências para o fim do ano: os gastos das famílias aumentaram em outubro, assim como as encomendas de bens industriais duráveis – ambos sinais positivos para o crescimento.
Além disso, a economia dos EUA cresceu num ritmo um pouco mais forte que o inicialmente estimado no terceiro trimestre, apesar da contínua queda dos investimentos das empresas.
“O crescimento continua no caminho certo”, apesar dos problemas recentes como uma greve de 40 dias na General Motors e dos problemas com o 737 MAX da Boeing, disse Brian Bethune, economista da Universidade Tufts.
Os investidores receberam bem os dados econômicos, assim como os comentários otimistas feitos na terça-feira pelo presidente Donald Trump sobre as negociações comerciais com a China. Ontem, o índice S&P 500 subiu 0,4%.
O Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos pela economia – dos EUA cresceu a uma taxa anualizada de 2,1% no terceiro trimestre, ajustada sazonalmente e à inflação, segundo o dado revisado pelo Departamento do Comércio. A primeira estimativa apontou um crescimento menor, de 1,9%, e a revisão para cima foi atribuída principalmente aos maiores investimentos em estoques.
A mais nova leitura “indica que a economia não está caminhando para um colapso”, disseram economistas da Oxford Economics em nota a clientes. “Mas o prolongado declínio industrial global, as persistentes incertezas com a política comercial e a queda do crescimento da renda apontam para uma atividade mais fraca nos próximos meses”, disseram os economistas Gregory Daco e Lydia Boussour.
O crescimento no quarto trimestre, agora em sua nona semana, caminha para ficar um pouco abaixo da taxa de 2% registrada nos dois trimestres anteriores. A consultoria Macroeconomic Advisers estima que o PIB americano deverá crescer de 1,8% neste trimestre.
Os consumidores americanos têm sido a força motriz da economia nos dois últimos trimestres, compensando o declínio nos investimentos das empresas. Mas há sinais de que o ímpeto do consumidor pode estar perdendo força. O Departamento do Comércio disse que os gastos das famílias tiveram um aumento sazonalmente ajustado de 0,3% em outubro, em relação a setembro, mas que grande parte desse aumento se deveu a gastos maiores com energia elétrica e gás.
Os gastos com bens duráveis, como automóveis, caíram em outubro e a renda das famílias permaneceu inalterada.
A menor confiança do consumidor também poderá ser um motivo de preocupação neste quarto trimestre. Na terça-feira, o Conference Board informou que seu índice de confiança caiu em novembro pelo quarto mês seguido.
Os gastos do consumidor respondem por mais de dois terços do PIB americano e os dados de ontem mostram que os gastos dos americanos tiveram um crescimento sólido, ainda que menor, no período julho-setembro, comparado ao segundo trimestre. Os gastos com consumo próprio cresceram numa taxa anualizada não revisada de 2,9% no terceiro trimestre, em comparação a 4,6% no segundo trimestre.
Os informes trimestrais de vendas do varejo divulgados até agora apontam sinais conflitantes sobre a disposição do consumidor americano para continuar gastando no momento em que se aproximam as festas de fim de ano.
As redes de lojas de departamentos Kohl’s, Macy’s, Nordstrom e J.C. Penney anunciaram fraqueza nas vendas, enquanto Target, Amazon, Walmart, Best Buy e TJX reportaram crescimento significativo.
No entanto, os investimentos das empresas continuam sendo um ponto fraco da economia. Os investimentos fixos não residenciais – que refletem os gastos das empresas com software, pesquisa e desenvolvimento, equipamentos e estruturar – caíram para uma taxa anualizada de 2,7% no terceiro trimestre, depois de uma queda de 1% no trimestre anterior.
Os lucros das empresas americanas também caíram no terceiro trimestre, segundo a primeira estimativa do governo. Uma preocupação apresentada pela fraqueza dos lucros das empresas é de que o mercado de trabalho possa se deteriorar se as empresas reduzirem as contratações ou demitirem funcionários para reduzir os custos, o que provavelmente afetaria os gastos do consumidor.
Mesmo assim, por enquanto o mercado de trabalho continua forte. O número de americanos requisitando auxílio desemprego pela primeira vez caiu na semana passada, segundo disse ontem o Departamento do Trabalho. A taxa de desemprego permaneceu em níveis historicamente baixos, de 3,6% em outubro, e o mercado de trabalho continuou criando empregos, embora num ritmo menor que o dos dois meses anteriores.
Os dados de ontem não deverão demover o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de sua atual posição “esperar para ver” em relação à política monetária. O mais recente “Livro Bege” do Fed, um sumário das condições econômicas atuais, apontou que a economia americana manteve um ritmo de expansão “modesto” até a metade de novembro, com gastos de consumo estáveis e sinais de melhora no setor manufatureiro.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/11/28/expansao-nos-eua-continua-solida-mas-consumo-desacelera.ghtml

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