Ataque a petroleiros sauditas eleva tensão e afeta cotação

Dois navios petroleiros da Arábia Saudita foram atacados no fim de semana perto do Estreito de Ormuz, segundo informou ontem o ministro da Energia saudita, o que provocou uma alta nos preços do petróleo em meio ao aumento da tensão no Golfo Pérsico.
Os petroleiros sauditas estão entre os quatro navios atacados no domingo no Golfo de Omã, na costa dos Emirados Árabes Unidos (EAU) enquanto eles se preparavam para cruzar o Golfo Pérsico. Também foram alvos navios de bandeira norueguesa e dos EAU. As informações foram dadas por autoridades sauditas.
Os ataques provocaram “danos significativos nas estruturas dos dois navios”, disse o ministro da Energia, Khalid al-Falih, que chamou o incidente de sabotagem.
Os ataques aumentam as preocupações com o abastecimento mundial de petróleo, em meio aos problemas na produção por causa da turbulência na Venezuela, uma guerra civil na Líbia e as sanções impostas pelos EUA ao Irã. Autoridades sauditas e americanas há muito se preocupam com a possibilidade do estreito de Ormuz se transformar num campo de batalha se as tensões com o Irã escalarem num conflito declarado.
Os EUA anunciaram na semana passada o envio de um porta-aviões, bombardeiros e uma bateria antimísseis Patriot para o Goffo Pérsico para conter o que o governo Donald Trump diz ser uma ameaça crescente do Irã. Washington impôs sanções e está tentando reduzir a zero as exportações de petróleo do Irã, para forçá-lo a abrir mão de influência regional, encolher suas atividades militares e acabar com as ameaças a Israel.
Ninguém culpou publicamente o Irã pelos ataques, nem mesmo a rival Arábia Saudita. Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério do Exterior do Irã, descreveu o incidente de domingo como “terrível” e pediu uma investigação, segundo a agência iraniana ISNA.
Mesmo assim, a ameaça de ataques a navios petroleiros perto de um ponto de estrangulamento no abastecimento de petróleo provocou uma forte volatilidade no mercado de petróleo. O tipo Brent, referência global, chegou a subir 2,7% para US$ 72,53 o barril em Londres, antes de fechar com uma leve queda de 0,6%, a US$ 70,23.
Um terço do gás natural liquefeito consumido no mundo e quase 20% da produção mundial de petróleo passam pelo estreito de Ormuz. Um interrupção desse fluxo provocaria falta do produto e alta nos preços.
Falih disse que um dos navios seguia para o porto saudita de Ras Tanura, no Golfo Pérsico, para carregar petróleo que iria para os EUA. Uma autoridade americana e uma autoridade saudita não autorizadas a falar publicamente sobre o assunto, disseram que Washington e seus aliados não sabem quem está por trás dos ataques e duvidaram do envolvimento do Irã por causa do risco de uma escalada nas tensões com os EUA.
A pedido dos EAU, militares americanos enviaram ontem uma equipe para inspecionar os navios e determinar quem está por trás dos atos de sabotagem, segundo informou uma autoridade americana do setor de Defesa. Algumas autoridades iranianas ameaçaram fechar o estreito de Ormuz em resposta às sanções, mas não houve desdobramentos disso. “Seria muita inabilidade dos iranianos”, disse a autoridade americana.
Não está claro o que aconteceu, exatamente, uma vez que autoridades sauditas e dos EAU divulgaram poucos detalhes. Falih disse que os ataques não causaram vazamentos de petróleo.
O porto de Fujairah, nos EAU, operava normalmente na noite de ontem, e nenhuma das embarcações danificadas tinha ingressado no porto, segundo trabalhadores e agentes de segurança locais.
A partir de vídeos feitos por funcionários locais, apenas o “Andrea Victory” registrava prejuízos visíveis, com um pequeno buraco na parte traseira do casco. O “A Michel” e o “Al Marzoqah” estavam inclinados contra a água, mas não ficou claro quais os danos que apresentavam.
Os navios-tanque sauditas já estiveram vulneráveis a ataques de inimigos regionais. No passado, rebeldes houthi atacaram petroleiros sauditas ao largo da costa do Iêmen no Mar Vermelho por duas vezes. Após o segundo ataque, em julho, a Arábia Saudita suspendeu as exportações de petróleo pelo estreito de Bab al-Mandeb.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a caminho da Rússia, fez uma parada não prevista em Bruxelas para falar sobre o Irã com os dirigentes europeus.
Brian Hook, representante especial para o Irã do Departamento de Estado, disse que Pompeo levantou a questão dos ataques aos petroleiros, mas que não comentaria sobre a possibilidade de o secretário considerar ou não o Irã ou seus aliados como responsáveis.
“Os desdobramentos justificam compartilhar mais informações, e essa foi uma oportunidade muito boa e prática de parar e fazer uma verificação de sinais com seus aliados europeus”, disse Hook sobre a parada de Pompeo em Bruxelas.

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