As festividades pagãs e a falta de ritos de passagem

Por Mario Rene
Professor ESPM

Sem adentrar no mérito dos detalhes ou fidedignidade inquestionável, vamos citar alguns dados históricos – quiçá lendas? – da origem pagã da Páscoa (cristã ou judaica).
A Páscoa, em sua origem, era uma festividade pagã, a exemplo do Natal.
Por que o Natal a 25 de Dezembro? Nesta época do ano, há mais de um par de milênios, os pagãos celebravam o Solstício de Inverno. Aproximadamente entre 17 e 23 de Dezembro, os antigos romanos celebravam as Saturnálias, festival em homenagem ao deus Saturno. Visitavam-se amigos e trocavam-se presentes, costume que, vejam só, permaneceu quando a festa foi incorporada aos ritos cristãos do Natal.
E as tais festividades pagãs de adoração ao sol eram acompanhadas de ritos que nós conhecemos muito bem. Guirlandas penduradas em tantas portas são um sinal de boas-vindas, herdado do culto aos deuses pagãos. Bem como as velas, acesas ao deus sol, hoje elétricas e mimetizadas por milhões de luzinhas coloridas espalhadas pelas cidades. Presentes já eram ofertados nos ritos pagãos, somado ao antigo costume oriental de levar presentes ao visitar o rei.
A Páscoa pagã, por seu turno, celebrava o “re-brotar” da Natureza –Primavera, no hemisfério norte – após um longo inverno. Primavera, cuja deusa da fertilidade era Ishtar (provavelmente daí Easter, em inglês, ou Ostern, em alemão). Segundo uma das lendas babilônicas, Ishtar nasce de um ovo (!!!) gigante que despenca dos céus no rio Eufrates., o coelho (precedido pela lebre) – criatura que procria rapidamente – foi muito bem escolhido como metáfora da deusa da fertilidade.
E onde entra o ovo na celebração da Páscoa? Outra criativa metáfora pagã para nascimento e renovação (parece que os pagãos, já há milhares de anos, tinham uma quedinha para serem bons publicitários…)
Já o costume de presentear com ovos mimetiza as oferendas dos sacerdotes à deusa Ishtar: flores e doces.
Era uma festividade muito alegre, daí o costume de pintar os ovos (verdadeiros…) com cores vibrantes, como os nossos de chocolate o são hoje.
E aí vamos ao meu ponto: salvo o Ano Novo (“Reveillon”), que é uma passagem de calendário, nada mais é celebrado, com a óbvia exceção dos feriados cívicos e religiosos. Nem mesmo ritos singelos, como o de rezar brevemente agradecendo a um provedor – seja ele Deus ou a Natureza – pelo nosso alimento do dia-a-dia. Refeições em família são raras ou mesmo inexistentes.
Então, notem que pitoresco: o paganismo, que deu origem às duas maiores festas da cristandade, estava bem mais próximo à Natureza do que estamos hoje. Não é porque moramos em megalópoles e não mais no campo que forçosamente devamos ignorar ou desprezar a maravilha que a Natureza e as estações do ano nos oferecem.
Talvez a volta à preocupação com nosso Planeta, Gaia ou a “Mãe-Terra” vá nos reaproximar dos antigos e ‘atrasados’ pagãos. Que, por sinal, cultuando seus inúmeros deuses, jamais disputavam sangrentamente entre si quais eram melhores ou superiores, como as grandes religiões monoteístas costumam fazer com Deus, Jeová ou Alá.

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