A década 2011-20 será a mais quente já registrada, com os seis anos mais quentes desde 2015. Este ano, deverá ser um dos três mais quentes desde o início dos registros em 1850. Apesar do lockdown provocado pela pandemia, a concentração de gases de efeito-estufa continua a subir na atmosfera. A temperatura média global de janeiro a outubro de 2020 foi 1,2°C acima do nível pré-industrial.
Os dados são do relatório provisório “State of the Global Climate 2020”, da Organização Meteorológica Mundial, a WMO, lançado ontem, a dez dias do 5o aniversário do Acordo de Paris. Pelo acordo, os países se comprometeram a conter o aumento da temperatura global entre 1,5°C e o máximo a 2°C.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o estado do planeta é preocupante e apelou para que a humanidade se comprometa com um futuro livre de emissões de carbono. “A humanidade está travando uma guerra contra a natureza. Isso é suicídio”, disse. “Incêndios e inundações apocalípticos, ciclones e furacões são cada vez mais o novo normal.”
O calor do oceano está em níveis recordes e mais de 80% do oceano global registrou alguma onda de calor marinha em 2020 com impactos nos ecossistemas, segundo nota da WMO enviada à imprensa,
O calor mais notável foi observado no norte da Ásia, no Ártico siberiano, com temperaturas que chegaram ao pico no final de junho, com registros de 38 °C. Foi a maior temperatura conhecida em qualquer lugar ao norte do Círculo Polar Ártico. “Isso alimentou a temporada de incêndios florestais mais ativa em 18 anos”, diz a nota. Os incêndios liberam grande volume de CO2 à atmosfera.
Desde a metade da década de 80, o Ártico se aqueceu pelo menos duas vezes mais que a média global. Isso reforça a tendência de queda na extensão do gelo marinho do Ártico no verão. A Groenlândia continuou a perder gelo.
O relatório também cita a seca severa na América do Sul, que afetou muitas regiões em 2020, principalmente o norte da Argentina, o Paraguai e áreas da fronteira oeste do Brasil. As perdas agrícolas estimadas somam cerca de US$ 3 bilhões só no Brasil. Cita inda incêndios florestais no Brasil e a severidade nas zonas úmidas do Pantanal, além dos grandes incêndios na Califórnia e na Austrália, com recordes de calor no início do ano.
O relatório se baseia em contribuições de dezenas de institutos, centros climáticos regionais e globais, organizações das ONU e especialistas do mundo todo. Indica como os eventos extremos de calor, incêndios florestais e inundações vêm afetando milhões de pessoas e tornando mais graves os efeitos da covid-19. Leva em conta dados de temperatura de janeiro a outubro. A versão final do estudo será publicado em março de 2021.
Mesmo com a pandemia, as concentrações atmosféricas de gases-estufa continuam em alta. O CO2 tem vida longa na atmosfera e é por isso que o que acontece agora afeta a vida das gerações futuras.
“Este é o quinto ano do aniversário do Acordo de Paris. Saudamos todos os compromissos anunciados recentemente por governos para reduzir mais as emissões porque atualmente não estamos no caminho certo e mais esforços são necessários”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da WMO, na nota.