Alta da inflação deve dificultar a agenda econômica de Biden

A maior inflação em 31 anos nos EUA gerou novas críticas republicanas ao plano de gastos sociais e climáticos, de US$ 2 trilhões, proposto pelos democratas 

O maior aumento da inflação dos últimos 30 anos representa um novo desafio para o presidente Joe Biden, num momento em que ele tenta aprovar outro pilar de sua agenda econômica e, ao mesmo tempo, aliviar o receio dos americanos com a alta dos preços. 

A inflação gerou novas críticas republicanas ao plano de gastos sociais e climáticos, de US$ 2 trilhões, proposto pelos democratas e chamado pela Casa Branca de Reconstruir Melhor. Os democratas da Câmara pretendem aprovar o projeto de lei na semana que vem. 

O índice dos preços ao consumidor (IPC) subiu 6,2% em outubro, em relação ao mesmo mês do ano passado, no quinto mês consecutivo de inflação superior a 5%. Os preços estão aumentando em artigos que vão desde automóveis e gasolina até alimentos e móveis. 

Biden disse na quarta-feira que atenuar os desafios ligados à inflação e aos gargalos nas cadeia de suprimentos segue sendo prioridade, mas discordou dos críticos de sua agenda. Disse que o projeto de infraestrutura suprapartidário recentemente aprovado contribuirá para atenuar gargalos nos transportes e que o Reconstruir Melhor reduzirá os custos das famílias. 

Biden tentou equilibrar seu discurso entre enfatizar as notícias econômicas positivas envolvendo alta dos salários e queda do desemprego, e admitir que a inflação ainda prejudica as famílias. 

Os republicanos rejeitaram unanimemente o plano de gastos democrata e o aumento de impostos que o acompanha, e apontaram para a inflação como prova de que é insensato gastar mais. 

O plano de gastos sociais e climáticos inclui financiamento para assistência à infância ampliada, pré-escola gratuito e aumento do incentivo fiscal por criança, além de outros itens, junto com cláusulas para reduzir preços dos medicamentos vendidos sob receita. 

O senador democrata Joe Manchin, um centrista, levantou preocupações com a dimensão do projeto, citando em parte seu possível impacto sobre a inflação, após um outro projeto de lei de alívio da covid-19, de US$ 1,9 trilhão, aprovado alguns meses atrás, ter aumentado a renda das famílias. Na quarta-feira, ele reiterou sua preocupação com a alta dos preços e rejeitou o argumento do governo de que a inflação é fenômeno transitório. 

A Moody’s Analytics estimou que o projeto de lei de infraestrutura, de cerca de US$ 1 trilhão, que inclui US$ 550 bilhões em novos gastos, juntamente com o projeto de lei de US$ 2 trilhões em gastos sociais e climáticos, representará um acréscimo de 0,3 ponto percentual à inflação, em média, no período de 2022 a 2024. 

Os republicanos tentam abordar a inflação tendo em vista as eleições para o Congresso do ano que vem, com planos de atacar atuais congressistas democratas vulneráveis por meio da vinculação da inflação à agenda de Biden. 

A Casa Branca espera que a aprovação do projeto de lei de infraestrutura contribua para elevar as atuais taxas de aprovação de Biden, que estão em queda, e apontou para pesquisas que mostram amplo apoio à agenda econômica do presidente. 

Pesquisa da Universidade de Monmouth divulgada na quarta-feira revelou que 65% dos americanos apoiam o projeto de infraestrutura e que 62% aprovam o plano de gastos democrata voltado para outras prioridades internas. A mesma pesquisa mostrou que 42% aprovam o desempenho de Biden no cargo, e 50% desaprovam. 

Patrick Murray, diretor da pesquisa, disse que os resultados mostram que falta à Casa Branca e aos democratas do Congresso “uma mensagem coesa e concreta” sobre a maneira pela qual seus planos ajudarão a população americana. 

“O apelo de Biden como uma pessoa comum que vai ajudar a classe média e os economicamente desfavorecidos sofreu um baque em ambas as frentes nos últimos meses”, disse ele. 

A inflação persistente também está complicando a estratégia do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) de abandonar políticas de liquidez farta adotadas pelo banco central no começo da pandemia. Isso ocorre em meio à incerteza em torno de quem presidirá o BC americano no ano que vem. 

O presidente do Fed, Jerome Powell, e outras autoridades do banco central, como a diretora Lael Brainard, avaliam que as pressões inflacionárias são transitórias e que vão passar. 

O ex-secretário do Tesouro Larry Summers, que elevou o alerta alguns meses atrás em torno do impacto potencialmente inflacionário do projeto de lei democrata de ajuda contra a covid-19, de US$ 1,9 trilhão, criticou a caracterização de transitória dada pelo governo aos aumentos dos preços. Mas disse à TV CNN não acreditar que os atuais projetos de lei de infraestrutura e de gastos vão estimular a inflação, observando que os gastos foram estendidos por 10 anos e que teriam seus efeitos neutralizados por aumentos de impostos. 

“Acho que não é um problema de inflação”, disse Summers, que foi o mais graduado assessor econômico do ex-presidente Barack Obama. “Acho que uma grande parte dele é constituída por investimentos vitalmente necessários para o futuro do país.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/11/12/alta-da-inflacao-deve-dificultar-a-agenda-economica-de-biden.ghtml

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