A questão da produtividade na economia americana

The New York Times; Poucos dias atrás, o Times publicou uma coluna muito interessante de meu colega Ezra Klein sobre a peculiar ausência de progresso nos Estados Unidos na arte de construir coisas. Citando um artigo recente de Austan Goolsbee e Chad Syverson, ele notou que, pelo menos de acordo com estatísticas oficiais, nós passamos por meio século sem nenhum aumento — e talvez até com algum declínio — em produtividade na construção civil; basicamente o número de horas-pessoa necessário para construir uma casa ou outra estrutura de dado tamanho.

O que torna isso estranho é que houve muitos avanços tecnológicos desde 1970 que deveriam ter facilitado e barateado a construção. Mas nenhum desses avanços parece ter se pagado.

Klein sugere que o problema pode ser o excesso de regulações no sentido mais amplo, a existência de muitos “pontos de veto” em que interesses específicos são capazes de bloquear construções a não ser que suas demandas sejam atendidas. E ele pode muito bem estar certo.

Produtividade nos EUA

Mas seu questionamento me fez pensar a respeito de um debate em economia do qual tenho idade suficiente para me recordar como testemunha: a tentativa de explicar a drástica diminuição no crescimento em produtividade em todas as economias nos anos 70. Esse debate tem muito em comum com a atual discussão a respeito de produtividade na construção. E também levanta algumas dúvidas sobre a produtividade ser ou não a maneira certa de medir sucesso econômico.

A produtividade cresceu rapidamente por várias décadas após a 2.ª Guerra, dobrando em uma geração. Então diminuiu drasticamente durante muitos anos. O ressurgimento do crescimento após 1990 — provavelmente ocasionado pela tecnologia da informação — e sua estagnação mais recente também são anedotas interessantes, mas não são meu assunto de hoje.

A questão é: O que aconteceu com a produtividade durante aquela queda nos anos 70? Uma teoria popular na época, com algum suporte empírico, foi que pelo menos parte da diminuição refletia maiores regulações do governo. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) foi fundada em 1970, e o Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional (Osha), em 1971. Ambas as entidades impuseram uma série de novas regras sobre as empresas, e não é difícil imaginar que essas regras tenham surtido alguns impactos adversos sobre a produtividade dos trabalhadores.

Mas isso significa que a regulação maior foi algo ruim? Não necessariamente.

Em 2020, o Escritório de Estatísticas Laborais lançou uma retrospectiva de 50 anos sobre o Osha, que contém, entre outras coisas, um gráfico notável. Resulta que os locais de trabalho dos EUA no início dos anos 70 eram perigosos demais segundo os padrões atuais. E não sei o que você acha, mas para mim uma probabilidade enormemente reduzida de se ferir ou ficar doente no trabalho soa a progresso.

Não é, contudo, progresso o que aparece em medições de produto interno bruto real — e portanto em dados de produtividade. Dados de produtividade mostram apenas os custos, não os benefícios, das regulações de segurança.

O mesmo é verdadeiro em relação a regulações ambientais. Em tempos ruins, a cidade de Nova York parecia-se com um parque industrial. Ela não tem mais essa aparência. E a EPA realizou estudos sistemáticos a respeito dos custos e benefícios da Lei do Ar Limpo que constaram que os benefícios, muitos deles na forma de melhorias na saúde das pessoas, excederam enormemente os custos.

Novamente, contudo, os benefícios não aparecem em medições de produtividade, exceto possivelmente com uma longa defasagem (porque trabalhadores mais saudáveis são presumivelmente mais produtivos).

Portanto parte da diminuição na produtividade durante os anos 70 provavelmente não representou uma perda de dinamismo como mudança em prioridades — escolhas deliberadas para tornar locais de trabalho mais seguros e o ar mais limpo, mesmo em detrimento da produção.

Essas escolhas foram defensáveis? Definitivamente sim. Essas políticas poderiam ter sido aplicadas de uma maneira melhor? É claro — mas quando isso não acontece?

Neste momento estou bastante disposto a acreditar que as contrapartidas no setor da construção foram muito piores do que na média, sem benefícios sociais correspondentes àquelas escolhas de políticas nos anos 70. Os problemas com o nimbyismo são enormes e óbvios, e são presumivelmente parte de um quadro maior, no qual grupos de interesse demais têm poder para dificultar a construção civil, mesmo quando esses projetos atendem em grande medida o interesse público. Entretanto é importante perceber que facilitar para as empresas fazer o que elas bem entendam nem sempre é uma coisa boa.

E a lição maior é que medir produtividade não é a única coisa que importa. Para que, afinal, serve a economia? O objetivo é melhorar a vida das pessoas. Isso com frequência é alcançado aumentando o produto interno bruto per capita, mas o PIB é um indicador, não um objetivo final. Nós poderíamos ter uma economia maior se estivéssemos dispostos a respirar ar sujo e ter muito mais trabalhadores feridos — mas não aceitamos essas contrapartidas.

https://www.estadao.com.br/internacional/a-queda-da-produtividade-da-economia-americana-leia-a-coluna-de-paul-krugman/

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