The Washington Post; O terremoto que atingiu a Turquia e a Síria na segunda-feira, 6, trouxe à tona uma questão com a qual a Síria luta há anos: o acesso à ajuda externa.
Obter ajuda para a Síria é profundamente complicado pela guerra civil de 2011, que deixou o país dividido em aproximadamente três partes: as áreas controladas pelo governo, uma parte controlada pelas forças curdas apoiadas pelos EUA e um bolsão controlado pela oposição no noroeste, onde quase dois terços de seus 4,5 milhões de habitantes foram deslocados de outros lugares e uma crise humanitária já estava em andamento antes do terremoto.
O governo sírio vinha expulsando combatentes e civis das áreas que reconquistou para a já empobrecida província de Idlib, na fronteira com a Turquia, e a região agora está repleta de deslocados. Além dos bombardeios regulares das forças do governo, doenças já devastavam a área.
Acesso restrito
Este pedaço de terra é fortemente dependente de ajuda. Mesmo antes do terremoto, 4,1 milhões precisavam de assistência humanitária, de acordo com as Nações Unidas. Essa assistência é prejudicada por restrições impostas pelo governo sírio, que também impede o acesso de algumas organizações internacionais à área. A ajuda também deve ser aprovada pelo governo turco, uma vez que flui para o bolsão controlado pelos rebeldes, apenas através da passagem de Bab al-Hawa na fronteira turca.
“Mas a Turquia agora está completamente sobrecarregada em lidar e ajudar seu próprio povo, de modo que não podemos esperar priorizar o foco na facilitação da ajuda aos sírios”, disse Mark Lowcock, ex-chefe de assuntos humanitários da ONU.
A entrega de ajuda ao enclave depende de uma votação a cada seis meses pelo Conselho de Segurança da ONU, mas em 2020 a Rússia forçou todas as passagens de fronteira de ajuda a fechar, exceto Bab al-Hawa, descrevendo a ajuda como uma violação da soberania de seu aliado, o governo sírio.
O medo aumenta, a cada seis meses, de que a Rússia vete a travessia final, que as Nações Unidas consideram a única rota viável para entregar ajuda fundamental, incluindo comida, água, abrigo e assistência médica.
Agora, com o terremoto, as estradas para Bab al-Hawa estão severamente danificadas e a resposta transfronteiriça foi interrompida, de acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, citando fontes locais. A estrada que liga a cidade de Gaziantep ao cruzamento está em uma das áreas mais danificadas e atualmente inacessível.
Cansaço dos doadores
Organizações não-governamentais internacionais têm prestado assistência a Idlib e áreas vizinhas há anos. Mas devido ao que as autoridades das Nações Unidas apelidaram de “fadiga da Síria”, as doações diminuíram e a atenção se voltou para outros lugares, especialmente após a invasão russa da Ucrânia no ano passado.
Os esforços humanitários anteriores foram, na melhor das hipóteses, medidas paliativas, deixando pouco ou nenhum espaço para preparação para emergências caso ocorresse um desastre natural como esse.