O WhatsApp está mudando sua política de privacidade para permitir que empresas enviem mensagens aos seus mais de 1 bilhão de usuários. Abre, com isso, um fluxo de receita potencial para o aplicativo, controlado pelo Facebook.
A drástica reformulação da política – a primeira desde que o WhatsApp foi adquirido pelo Facebook, no começo de 2014 – permitirá que as empresas enviem as mensagens recebidas atualmente por muitas pessoas pelo SMS. O WhatsApp pretende testar nos próximos meses esses novos serviços, que incluem alertas de fraude emitidos por bancos e atualizações das companhias aéreas sobre atrasos de voos, como mostrou artigo de Hannah Kuchler para o Valor de 26/08.
O WhatsApp informa, no entanto, que não colocará os anúncios conhecidos como “banners” nas mensagens. Reiterou que sua criptografia ponta a ponta impede o acesso da empresa ao conteúdo das mensagens e que não armazena regularmente metadados sobre quem contata quem.
“Queremos explorar formas de você se comunicar com empresas que também são importantes para você, proporcionando a você, ao mesmo tempo, uma experiência sem ‘banners’ e ‘spams’ de terceiros”, disse um porta-voz do WhatsApp em mensagem de blog.
Esta é a primeira vez que o WhatsApp, gerido separadamente de sua mantenedora, compartilha dados do usuário com ela. Quando o Facebook comprou o WhatsApp, por US$ 22 bilhões, alguns temeram que a rede social mudasse a política de privacidade, usando dados dos internautas [para possível uso comercial], ou começasse a exibir anúncios aos usuários em seu fluxo de mensagens.
A nova política de privacidade permite que o aplicativo principal do Facebook utilize o número de telefone fornecido pelo usuário ao WhatsApp para permitir que agências de publicidade direcionem anúncios. O número usado pelo WhatsApp vai se tornar parte de um banco de dados pré-existente que poderá ser combinado anonimamente com as próprias listas de clientes das empresas para criar um público sensível à recepção de determinada mensagem de marketing.
O Facebook poderá, além disso, usar o número para sugerir a adesão de amigos e para fazer rastreamento a fim de verificar se um usuário tem os aplicativos tanto do WhatsApp quanto do Facebook em seu telefone.
“Mesmo quando entrarmos em operação mais coordenada com o Facebook, nos próximos meses, as mensagens criptografadas enviadas por você continuarão privadas, e ninguém mais poderá lê-las. Nem o WhatsApp, nem o Facebook, nem qualquer outro”, disse o porta-voz. “Não vamos postar ou compartilhar o seu número do WhatsApp com outros, nem no Facebook, e ainda assim não vamos vender, compartilhar ou dar o número do seu telefone a anunciantes.”
Jan Koum, cofundador e executivo-chefe do WhatsApp, disse que proteger a privacidade é um valor essencial para a empresa, em parte devido à sua experiência pessoal de ter sido criado na União Soviética. Ele disse que a ideia da criptografia ponta a ponta, que a empresa acabou de adotar para todos os usuários e todos os serviços em abril, é “simples”: nenhum criminoso virtual, nenhum regime opressor e nem mesmo o WhatsApp conseguem abrir a mensagem.
Embora o WhatsApp esteja apenas começando a cortejar as empresas intensivamente, muitas já usam o aplicativo para contatar os clientes, principalmente os dos mercados emergentes, onde o aplicativo domina as comunicações on-line.
O Facebook Messenger, o outro aplicativo de mensagens do Facebook, também está dando acesso às empresas, e as incentiva a montar “chatbots”, que empregam inteligência artificial para se comunicar com os usuários, simulando seres humanos. Nessa fase inicial, o WhatsApp parece estar implementando uma resposta mais básica, adequada à sua concepção enxuta e ao seu foco em usar muito poucos dados móveis, a fim de atender portadores de conexões de baixa velocidade.