Vizinho está “sob nova direção”. Eleição reaproxima Paraguai do Mercosul

O resultado da eleição no Paraguai não foi exatamente uma surpresa. A escolha do empresário Horacio Cartes, do Partido Colorado, era esperada. Os 45,8% dos votos alcançados contra o adversário do Partido Liberal, Efraim Alegre (que somou 36,9%) eram previstos. Acompanhando os números tradicionais, apenas 68% dos 3,3 milhões de eleitores paraguaios compareceram as urnas. O país tem 6,5 milhões de habitantes.
A escolha de Cartes pode encerrar um ciclo de isolamento do Paraguai iniciado em junho do ano passado com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo. Decretado pelo Congresso. O processo de destituição foi especialmente rápido – em menos de 24 horas Lugo foi denunciado, julgado pelos senadores e retirado do cargo – não foi aceito pelos três outros sócios do Paraguai no Mercosul. Os governos do Brasil, Argentina e Uruguai suspenderam a participação do Paraguai no bloco até que a plena vigência dos direitos democráticos fosse restabelecida no país. O que se espera é que a eleição de domingo permita a volta dos paraguaios ao bloco.
O aspecto mais importante desta eleição é que todos os candidatos, sem exceção, queriam romper com o isolamento e restabelecer as relações bilaterais especialmente com o Brasil e Argentina. O aspecto mais relevante deste relacionamento é a questão energética. A Usina Hidrelétrica de Itaipu, construída em conjunto por Brasil e Paraguai, tem 14 mil megawatts de potência instalada e representa 18,5% da energia consumida no Brasil e a 90% do consumo paraguaio.
O Tratado de Itaipu, assinado em 1973, estabelece que cada país tem direito a usar metade da energia gerada pela usina. O Paraguai usa apenas 5% da emergia gerada nas dez turbinas de Itaipu que são do país e vende o que sobra ao Brasil. Não é diferente com a usina de Yacyretá, que o país tem em sociedade com a Argentina, mas neste caso toda a energia gerada que pertence ao Paraguai é vendida a Buenos Aires. O Brasil tem um projeto de construir uma linha de transmissão de Itaipu para as regiões de San Pedro e Concepción, para a futura industrialização do país.
Nos últimos anos a economia paraguaia sofreu fortes oscilações. Em 2009 o PIB do Paraguai enfrentou queda de -4%. No ano seguinte cresceu 13,1%. No ano passado, o PIB voltou a ficar negativo em -1,2%, mas para este ano a previsão do FMI é de expansão da economia em 11%. Como mostrou artigo publicado na edição de hoje do Estadão, pg A8, o candidato vitorioso, Horácio Cartes, um rico empresário do setor do tabaco, nunca tinha participado de eleições e pode ter sido eleito exatamente por esta razão: ganhou votos por não ser político. É preciso lembrar, no entanto, que Lugo, o ex-presidente eleito em 2008 e destituído em 2012, também ganhou aquela eleição pelo mesmo motivo: não era político.

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