Uma retomada em “V” na China parece improvável

Dados, como uma deflação maior que a esperada nos preços ao produtor, mostram que a demanda interna na China continua fraca e que a retomada da atividade econômica é lenta 

Os preços ao produtor na China tiveram a maior queda em quatro anos em abril, refletindo a pressão deflacionária enfrentada pelas indústrias diante da queda na demanda externa e interna resultante da pandemia de covid-19. 

O índice de preços do produtor caiu 3,1% em comparação com abril de 2019, de um declínio de 1,5% registrado em março, segundo dados da Agência Nacional de Estatísticas da China divulgados ontem. Os preços do petróleo e de outras commodities desabaram, contribuindo para a queda nos preços atacadistas. Economistas consultados pelo “The Wall Street Journal” previam uma queda 2,5% na comparação anual. 

“Não haverá uma recuperação em ‘V’ na atividade econômica”, disse Liu Xuezhi, analista do Bank of Communications, após a divulgação dos dados. “A recuperação da covid-19 será lenta.”  

Muitos economistas acreditam que os preços atacadistas terão nova queda em maio, embora a recuperação da demanda doméstica possa sustentar uma retomada gradual até o fim do ano. 

Ainda assim, as pressões empurrando os preços para baixo são um presságio preocupante para as fábricas chinesas, cujos lucros caíram 36,7% nos três primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo trimestre de 2019, segundo as estatísticas oficiais. A perspectiva para os lucros do setor industrial nos próximos meses continua igualmente sombria, em vista da demanda ainda desaquecida pelas exportações chinesas. 

A economia chinesa no primeiro trimestre de 2020, assolada pela pandemia, teve a sua primeira retração em mais de 40 anos. A retomada das atividades comerciais, acompanhada de perto por especialistas depois da iniciativa do governo para reabrir negócios e impulsionar o consumo, até agora ficou aquém das expectativas. 

Economistas agora debatem se Pequim desistirá de anunciar uma meta de crescimento para este ano quando realizar seu encontro legislativo anual neste mês. 

A China havia planejado encerrar o ano com a economia dobrando de tamanho em relação a dez anos atrás, uma meta que economistas dizem exigir crescimento de pelo menos 5,5% neste ano. Essa meta, porém, parece fora de alcance para uma economia que recuou 6,8% no primeiro trimestre. 

O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, foi citado pela mídia estatal dizendo na segunda-feira que o governo trabalhará para cumprir as principais metas sociais e econômicas deste ano – termos vagos que, segundo alguns especialistas, indicam que a alta liderança em Pequim pretende restringir suas ambições iniciais em razão da pandemia. 

O índice de preços ao consumidor subiu 3,3% em relação a abril de 2019, abaixo dos 3,6% previstos por economistas e dos 4,3% observados em março. 

Os preços dos alimentos subiram 14,8% em abril, na comparação anual, abaixo da alta de 18,3% registrada em março. A inflação da carne suína, que nos últimos 12 meses pressionou a inflação ao consumidor para cima na China, caiu para 96,9% em abril, graças à maior oferta. Em março, havia sido de 116,4%. 

Os preços de outras carnes básicas, como a bovina, de aves e de carneiro, também subiram menos em abril, enquanto ovos, vegetais e frutas tiveram quedas. 

Os preços de produtos não alimentares subiram 0,4%, abaixo da alta de 0,7% contabilizada em março, já que houve declínios nos preços dos transportes, moradia e roupas em comparação a abril de 2019. 

A cenário de inflação mais moderada deverá dar ao banco central da China mais espaço para estimular a economia sem medo de sobreaquecimento dos preços. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/05/13/uma-retomada-em-v-na-china-parece-improvavel.ghtml

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