UE mira países que ajudam a Rússia a evitar sanções

Os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) devem adotar medidas comerciais contra os países que ajudam o regime do líder russo, Vladimir Putin, a contornar as sanções impostas pelo bloco contra a Rússia. O apelo feito pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, levou a China a alertar que reagirá “estrita e firmemente” para defender seus negócios. 

Durante visita ontem à capital ucraniana, Von der Leyen, disse que as medidas – que deverão fixar um novo precedente para as ações a serem adotadas pela UE – deverão fazer parte da nova rodada de sanções contra a Rússia que está sendo discutida pelos países- membros. 

“Assistimos recentemente ao crescimento de fluxos comerciais altamente incomuns entre a UE e determinados terceiros países. Esses produtos acabam indo para a Rússia”, disse Von der Leyen, ao lado do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. 

Ela não citou nominalmente os países, mas autoridades da UE levantam preocupações sobre certos fluxos de bens entre a China e o Irã há algum tempo. 

“Se verificarmos que os produtos estão indo da UE na direção de terceiros países, indo depois parar na Rússia, poderemos propor aos países que imponham sanções a esses produtos”, disse von der Leyen. 

Todos os 27 membros têm de aprovar a adoção de toda e qualquer sanção por unanimidade. A Comissão Europeia é responsável por propor quais tipos de sanções o bloco deve adotar, deixando aos países-membros a tarefa de aparar suas divergências, às vezes ao longo de várias semanas. 

“Esse instrumento será um último recurso, e será empregado com cuidado, após uma análise de risco muito zelosa e após a aprovação dos países-membros da UE. Mas não deverá haver dúvida de que nós agiremos contra o ato de contornar as sanções”, disse ela. 

O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, afirmou ontem que Pequim reagirá energicamente se a UE adotar medidas contra empresas que operam de forma legítima na Rússia. Qin falou com a imprensa após encontro com sua contraparte alemã, Annalena Baerbock, em Berlim. 

Oito empresas chinesas acusadas de vender equipamentos que poderiam ser usados em armas foram listadas em um novo pacote de sanções, visto pelo “Financial Times”, que será discutido pelos membros da UE nesta semana. 

Até agora, Bruxelas evitou atacar a China, argumentando que ainda não havia evidências de que estava fornecendo armas a Moscou. Qin disse que a China não entrega armas em regiões de crise e tem leis que regulam a exportação de bens de uso duplo. 

“Existe um intercâmbio e cooperação normais entre empresas chinesas e russas… [isso] não deve ser interrompido”, afirmou. “Somos contra os Estados que introduzem sanções extraterritoriais ou unilaterais à China ou a qualquer outro país de acordo com suas próprias leis domésticas. E se isso acontecesse, reagiremos com rigor e firmeza. Defenderemos os interesses legítimos de nosso país e de nossas empresas”. 

Baerbock destacou que quaisquer sanções serão voltadas contra empresas específicas, e não países, que fornecem componentes fundamentais a fabricantes russos de armas – inclusive produtos conhecidos como de uso duplo. 

“Isso não é voltado contra qualquer país específico, e sim, em especial, contra esses produtos sancionados”, disse ela. “Mas esperamos de todos, inclusive da China, que pressionem suas empresas de forma correspondente.” 

A UE impôs 10 rodadas de sanções à Rússia desde que Putin determinou que suas forças invadissem a Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado. Bancos, empresas e mercados foram atingidos – e até parcelas do delicado setor energético. Mais de 1.000 autoridades russas estão sujeitas a sanções como congelamentos de ativos e proibições de viajar. 

Boa parte do trabalho envolveu fechar brechas, de maneira que produtos vitais para o esforço de guerra de Putin não atravessem as barreiras. Esta, no entanto, é a primeira vez que foram anunciados planos destinados a atingir o comércio realizado via outros países, além das sanções contra iranianos que estariam, supostamente, fornecendo drones à Rússia. 

No passado, as sanções foram pactuadas em apenas alguns meses – um ritmo extremamente acelerado para a UE. Mas novas medidas estão ficando cada vez mais difíceis de aprovar, por infligirem prejuízos aos interesses econômicos e políticos de alguns países-membros, apesar de serem destinadas contra a Rússia. (Colaborou Frank Jordans, de Berlim) 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/05/10/ue-mira-paises-que-ajudam-a-russia-a-evitar-sancoes.ghtml

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