A União Europeia (UE) imporá novas sanções a autoridades russas pela prisão do líder da oposição Alexei Navalny e avançará com medidas para confrontar Pequim pela repressão em Hong Kong, numa indicação de que a posição do bloco sobre os dois países fica mais próxima da dos Estados Unidos.
A principal autoridade de política externa da UE, Josep Borrell, disse ontem que proporá uma lista de autoridades russas relacionadas ao caso Navalny que terão seus ativos congelados e serão proibidas de viajar aos países do bloco. Falando logo após reunião de ministros europeus de Relações Exteriores, ele disse esperar que a lista seja aprovada em uma semana.
As sanções terão como alvo “os responsáveis pela prisão, condenação e perseguição” de Navalny, disse Borrell. Será o primeiro uso da nova regra da UE para sanções por violação de direitos humanos, similar à Lei Magnitsky dos EUA.
A decisão da UE foi tomada enquanto os ministros faziam uma videoconferência de duas horas com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. As discussões abordaram vários assuntos, desde a meta do governo do presidente Joe Biden de trabalhar com os aliados europeus na contenção da Rússia e da China até a questão do acordo nuclear iraniano.
Apesar de enfatizar a independência de sua política externa, autoridades da UE têm dado sinais de alinhamento com os EUA em temas delicados desde que Biden assumiu. Documento confidencial da UE sobre Hong Kong, ao qual o “The Wall Street Journal” teve acesso, defende uma maior cooperação com os EUA e outros aliados para pressionar a China.
O apoio à imposição de sanções contra a Rússia cresceu rapidamente após uma viagem tensa de Borrell a Moscou. Ele disse que “é evidente que a Rússia está num rumo de confronto com a UE”.
Moscou minimizou a ameaça de sanções e insistiu que EUA e UE parem de interferir nos assuntos internos da Rússia. O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, repetiu recentemente uma ameaça antiga de cortar os laços com a Europa caso sejam impostas novas sanções amplas.
Os ministros da UE também acertaram avançar com algumas medidas para responder ao endurecimento do controle da China sobre Hong Kong. Borrell disse que o objetivo é pressionar as autoridades chinesas.
Na semana passada, a unidade de serviços estrangeiros da UE distribuiu um documento confidencial que descreve uma série de passos que o bloco pode tomar nos próximos meses.
Pelo documento, a UE deveria “coordenar uma abordagem conjunta para Pequim e Hong Kong” com outras potências democráticas, inclusive por meio do G-7, o grupo das maiores economias ricas. Outra medida considerada seria facilitar a capacidade de empresas multinacionais de transferir cidadãos de Hong Kong.
A UE tem ligações comerciais consideráveis com Hong Kong, pois mais de 60% do investimento direto estrangeiro para dentro e para fora da China passa pelo território e mais de 1.500 empresas da UE estão instaladas lá. O comércio bilateral entre UE e Hong Kong no ano passado atingiu € 27 bilhões, equivalente a US$ 33 bilhões.
Embora a UE, ao contrário dos EUA, tenha evitado impor sanções diretas a autoridades chinesas ou de Hong Kong, autoridades europeias disseram que a nova regra bloco para sanções por violações dos direitos humanos pode ser aplicada. O documento é o primeiro sinal de que a UE não vai abandonar suas preocupações a respeito de Hong Kong mesmo depois de finalizar, em dezembro, as negociações sobre um pacto de investimento com Pequim que pode ampliar seus laços econômicos.
Os ministros da UE se juntaram ainda aos EUA e reforçaram a condenação ao golpe militar em Mi-anmar e à violência na repressão de manifestantes. Disseram estar prontos para adotar sanções “contra os responsáveis diretos pelo golpe militar e seus interesses econômicos”. EUA e Canadá já adotaram sanções aos líderes do golpe.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/02/23/ue-e-eua-alinham-posicao-sobre-russia-e-china.ghtml