Trump diz que ‘não tem prazo’ para por fim à disputa com a China

O presidente dos EUA, Donald Trump, não espera ver muitos avanços nas negociações comerciais com a China nesta semana em Washington, disse ele à Reuters. Ele afirmou ainda que “não tem prazo” para acabar com a disputa comercial com a China. “Eu sou como eles, tenho um horizonte longo”, afirmou.
As negociações desta semana coincidem com uma nova rodada de tarifas de 25% sobre US$ 16 bilhões em produtos chineses. A sobretaxa entra em vigor nesta quinta-feira, junto com as tarifas retaliatórias de Pequim sobre igual volume de produtos americanos importados pela China. O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) também conduz nesta semana audiências públicas sobre a proposta de Trump de aplicar tarifas sobre outros US $ 200 bilhões em produtos chineses, como mostrou matéria do Valor de 21/08.
Trump disse que os negociadores chineses estariam chegando em breve, acrescentando que ele não “antecipava muito” das discussões de nível intermediário.
O presidente americano ainda acusou a China de manipular sua moeda para compensar as tarifas cobradas pelas importações impostas por Washington. Ele disse que outros países, incluindo a Europa, se beneficiam das ações de seus bancos centrais durante duras negociações comerciais, mas que os EUA não recebem apoio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Não estou nada satisfeito com esse aumento das taxas de juros. Não estou nada feliz”, acrescentou, referindo-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.
“Estamos negociando com muita força e firmeza com outros países. Vamos vencer. Mas durante esta fase eu deveria ter alguma ajuda do Fed. Os outros países têm isso.”
“Eu acredito que a China está manipulando sua moeda, com certeza. E acho que o euro também está sendo manipulado”, afirmou. Trump fez da redução dos déficits comerciais dos EUA uma prioridade, e a combinação de taxas de juros em elevação com um dólar mais forte põe em risco o crescimento das exportações.
Trump frequentemente acusa a China de manipular sua moeda, mas seu governo até agora se conteve em nomear formalmente a China como um país manipulador de moeda na avaliação semestral do Departamento do Tesouro.
O dólar americano se fortaleceu este ano em 5,35% em relação ao yuan, revertendo a maior parte de sua queda em relação à moeda chinesa em 2017.
Trump, que assustou os investidores em julho ao criticar o endurecimento da política monetária do banco central americano, disse à Reuters que acreditava que o Fed deveria adotar uma política monetária mais acomodatícia.
O presidente nomeou Powell no ano passado para substituir a ex-presidente do Fed Janet Yellen. Os presidentes americanos raramente fazem críticas ao Fed, uma vez que a independência do BC é vista como algo importante para a estabilidade econômica.
Indagado se acreditava na independência do Fed, Trump respondeu: “Eu acredito no Fed fazer o que é bom para o país.” Powell assumiu a presidência do Fed no começo do ano. “Estou feliz com minha escolha?”, disse Trump, referindo-se a Powell. “Contarei a vocês daqui a sete anos.”
As ações americanas na bolsa recuaram depois dos comentários do presidente, e o dólar caiu em relação a uma cesta de moedas.
Ontem, o presidente dos EUA também descartou a ideia de fazer qualquer concessão à Turquia para conseguir a libertação de um pastor americano que está preso e disse não estar preocupado com a possibilidade de que as tarifas retaliatórias que impôs possam ter um efeito cascata e prejudicar a economia europeia.
Trump disse que acreditava que tinha um acordo com o presidente da Turquia, Recep Erdogan, quando ajudou a convencer Israel a libertar uma cidadã turca. Ele achava que por isso Erdogan libertaria o pastor Andrew Brunson, que nega as alegações da Turquia de envolvimento na tentativa de golpe contra Erdogan há dois anos.
“Acho que é muito triste o que a Turquia está fazendo. Eles estão cometendo um erro terrível. Não haverá concessões”, afirmou.
Em resposta à recusa de Erdogan em liberar Brunson, Trump impôs tarifas sobre as importações de aço e alumínio turcos, provocando temores de prejuízo econômico na Europa.
“Não estou minimamente preocupado. Não estou preocupado. É a coisa certa a fazer”, respondeu, ao ser indagado sobre o prejuízo potencial para outras economias.
Com relação ao Irã, Trump demonstrou pouco interesse em se encontrar com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, para discutir a disputa sobre o programa nuclear iraniano, após ter expressando tal disposição no início do mês. “Se eles quiserem se encontrar ótimo, e se eles não quiserem se encontrar, eu não me importo.”

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