A China responde hoje por uma parcela duas vezes maior do comércio global do que quando surgiu a epidemia de sars, em 2003. A economia mundial depende da China a um grau jamais observado antes, e o surto de coronavírus revela o alto preço a ser pago por essa dependência. A China responde hoje por uma parcela duas vezes maior do comércio global do que quando surgiu a epidemia de sars, em 2003.
Uma estimativa mostra que uma queda de US$ 10 bilhões na produção industrial chinesa reduziria a produção do resto do mundo em US$ 6,7 bilhões. Coreia do Sul, Japão e os EUA tendem a sentir mais o impacto, e, levando-se em consideração os abalos secundários sobre setores periféricos, cerca de US$ 65 bilhões em produção ficariam comprometidos.
A atividade econômica na China está paralisada desde o fim de janeiro e não se sabe ainda quando as operações serão efetivamente retomadas. Se a suspensão for prorrogada, isso terá um grande impacto sobre a economia global.
O “Nikkei”, em colaboração com o Centro de Pesquisa Econômica do Japão, analisou as Tabelas Mundiais de Insumos e Produção da Comissão Europeia e constatou que uma queda de US$ 10 bilhões na produção da indústria de transformação chinesa reduziria a produção sul-coreana de artigos a serem exportados para a China em quase US$ 300 milhões. Além disso, uma queda dos suprimentos vindos da China diminuiria as vendas sul-coreanas de produtos acabados em cerca de US$ 200 bilhões. O duplo revés leva a concluir que a Coreia do Sul seria lesada em US$ 500 milhões. O custo para todos os países e regiões somados, excetuando-se a China, alcançaria cerca de US$ 6,7 bilhões.
Mas é possível que o impacto seja até maior. Acrescentando-se o efeito indireto sobre setores afins na China, como o declínio da produção nesses setores, o impacto negativo alcança cerca de US$ 65 bilhões, valor 6,5 vezes maior que a queda da produção causada pelo impacto direto.
A China também é o maior país em comércio exterior do mundo. O Centro de Comércio Internacional estima que sua participação no comércio global é de cerca de 12%, superior à dos EUA. Em 2003, a fatia da China era inferior a 6%.
Para Taiwan, a principal fornecedora de peças eletrônicas para a China, o comércio com o continente responde por 36% do total de suas transações externas. No caso do intercâmbio comercial da Coreia do Sul com a China, esse percentual é de 28%. Costumava-se dizer que, quando os EUA espirravam, o Japão pegava um resfriado. Atualmente a parcela do comércio japonês com a China, de 22%, ultrapassa a parcela de 15% mantida pelos chineses com os EUA. Na Alemanha, um exportador de maquinário, esse índice é de 6%. Tanto o Japão quanto a Alemanha viram a uma significativa expansão dessa proporção desde 2003.
Os países emergentes temem uma reversão de direção do fluxo do dinheiro chinês. Em 2003, O saldo de investimento externo direto da China, excetuando-se investimentos em Hong Kong e em Macau, era de US$ 8,1 bilhões. Essa cifra disparou para US$ 870 bilhões em 2018, valor mais de 100 vezes superior ao de 15 anos antes.
Dependendo do curso futuro do surto, o investimento chinês no exterior pode perder força, possivelmente causando uma reversão no fluxo de dinheiro da China.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/02/10/surto-expoe-dependencia-chinesa.ghtml