Em 2011, a engenheira Cláudia Galvão criou a Ananse e foi pioneira no país na produção de microcápsulas de fragrâncias para aplicação em catálogos de cosméticos. Seu primeiro cliente foi a Avon, que, até então, importava tecnologia dos Estados Unidos para oferecer páginas perfurmadas nas revistas que distribuía a suas revendedoras no Brasil.
Agora, com sua nova startup, a Noar, Cláudia se prepara para lançar o “cheiro digital” – tecnologia que dispensa catálogos impressos, borrifadores ou amostras em minifrascos para experimentar perfumes. A primeira empresa a abraçar a ideia foi a Natura.
Os cheiros serão sentidos por meio de um tablet, que começa a ser entregue às 1,2 milhão de consultoras da marca neste semestre. O equipamento possui um orifício que exala um “vento seco”, que não deixa resíduos de perfume no ambiente, e só é sentido bem de perto pelo usuário.
As fragrâncias são inseridas no equipamento por nanotecnologia – como se fossem microrrefis de uma impressora a tinta. O cheiro do perfume a ser demonstrado é ativado por um aplicativo. O dispositivo comporta até 20 fragrâncias. “É possível cheirá-las em sequência sem confundir o olfato”, diz Cláudia, se referindo a uma das dificuldades de experimentar vários perfumes ao mesmo tempo pelos meios convencionais.
Embora o equipamento não tenha sido desenvolvido por causa da pandemia, o momento não poderia ser mais propício para o lançamento, diz Roseli Mello, líder global de pesquisa e desenvolvimento da Natura & Co. “É uma tecnologia que permite cheirar perfumes de forma segura. Você pode continuar usando a sua máscara e o dispositivo pode ser totalmente higienizado depois do uso”. A empresa também foi atraída pela possibilidade de gerar menos resíduos ao ambiente, ao deixar de produzir amostras em minifrascos, que são descartados após o uso.
Para ajudar na escolha do perfume, a Natura desenvolveu um aplicativo, que sugere opções de acordo com informações que o consumidor insere sobre sua personalidade e ocasião em que pretende usar a fragrância. Os tablets também estarão disponíveis nas lojas físicas da Natura no país.
Em fevereiro, a Noar – que foi criada por Cláudia e mais três sócios – conquistou um novo investidor, a Wheaton, maior fabricante de vidros para perfumes da América Latina. A ideia é investir R$ 30 milhões na startup nos próximos cinco anos, e desenvolver diferentes aplicações para os microrrefis de fragrâncias, como para a indústria de jogos eletrônicos.
O princípio do negócio é o mesmo da Nespresso, compara Renato Massara Jr, diretor comercial da Wheaton. Depois da venda do equipamento, a receita recorrente virá da venda dos refis e da assistência técnica fornecida ao cliente.
A tecnologia pode ser aplicada a diferentes equipamentos, que a Noar desenvolve de acordo com a demanda da empresa contratante. Pode ser um tablet, como no caso da Natura, um totem para experimentação numa varejista de perfumes, ou um brinquedo. Os aparelhos, neste início de operação, serão feitos por terceiros contratados no Brasil.
“Com o crescimento do volume, a ideia é ter uma fábrica própria”, diz Massara. A Noar é a primeira startup em que a Wheaton investe. A fabricante de vidros faturou cerca de R$ 1 bilhão no ano passado.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/08/17/startup-desenvolve-cheiro-digital.ghtml