Quanto tempo levará para a igualdade de gêneros? Caso o ritmo recente de queda da desigualdade entre homens e mulheres no Brasil se mantenha, elas vão ganhar o mesmo que eles em 2085.
Dos cargos de alta gestão –diretoria e conselho–, só ocuparão 51% (proporção pela qual respondem na população brasileira) em 2213. Vão atingir essa mesma quota no Senado em 2083. E, na Câmara dos Deputados, em 2254.
Essas projeções, feitas pela reportagem, não são uma previsão do futuro. Usam regressões lineares, equações que estimam o valor esperado de um indicador com base no ritmo anterior, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, assinada por André Cabette Fabio, publicada em 27/9.
Não levam em conta, portanto, mudanças como a criação ou extinção de leis de cotas, que podem acelerar ou desacelerar esse ritmo. Mas servem para visualizar o ritmo de queda de desigualdade no país nos últimos anos.
Em espaços como os conselhos, o topo da gestão de grandes empresas, a participação das mulheres está estagnada. Segundo levantamento da FGV Direito com 480 empresas listadas na Bolsa, elas ocupavam 7,5% das cadeiras dos conselhos de administração em 2012.
Dados do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa de 2011 mostram que, se desconsideradas herdeiras, a proporção de mulheres nos conselhos cai para 4%. “Isso quer dizer que, se tudo continuar como está, nem em 300 anos a situação mudará”, diz Angela Donagio, da FGV.
Já nas diretorias executivas, há hoje menos de uma mulher para nove homens, e a proporção só chegará a 5:5 –como ilustram as fotos ao lado– em 2126 (conheça os personagens do ensaio em folha.com/no1686833).
A diferença entre os salários vem se reduzindo lentamente, e há até mesmo dúvidas sobre isso. Dados mais recentes do Dieese não apontam uma tendência sustentada de queda, segundo Lúcia dos Santos Garcia, economista da instituição.
No caso de São Paulo, por exemplo, a diferença reflete uma melhora no setor público e de serviços, onde elas são maioria, e uma piora na indústria, onde eles dominam.
Ou seja, não há uma melhora da situação da mulher, mas uma piora dos homens.
O tipo de atividade também explica diferenças regionais. Grandes empresas significam altos salários, que, em geral, são dos homens, o que contribui para que São Paulo seja muito mais desigual que Salvador, diz Regina Madalozzo, especialista em economia de gênero do Insper.
A mulher entra nas empresas com salário menor porque está em condições piores para negociar. No Brasil inteiro, é mais difícil para uma mulher conseguir emprego do que para um homem.
No campo político, o avanço é lento, apesar da lei de 2009 que obrigou os partidos a preencher ao menos 30% das candidaturas com mulheres. Segundo Luciana de Oliveira Ramos, pesquisadora do GPGD, a lei de cotas para as candidaturas tem impacto limitado porque não exige uma eleição mínima de mulheres, ou que se destine recursos para suas campanhas.
Veja as diferenças entre gêneros em vários quesitos, como educação e carga de trabalho: folha.com/no1675183