É preciso separar as coisas. Existe a aparência do produto, e existe a forma como você interage com ele. Ambas têm a ver com o design. Em tecnologia, é o design que separa o sucesso do fiasco de um produto.
É preciso ter um bom design físico -o chamado design industrial- para convencer as pessoas a experimentarem algo. O verdadeiro diferencial, porém, é o funcionamento do produto, como mostrou matéria do The New York Times, assinada por Molly Wood, publicada n Folha de São Paulo de 12/04.
John Maeda, da empresa de investimentos Kleiner Perkins Caufield & Byers e ex-diretor da Escola de Design de Rhode Island, disse: “Se o software não for bom, não importa. Se fabricarem uma pulseira incrível, mas o software for ruim, você vai jogá-la fora.”
Isso é particularmente válido para produtos tecnológicos que estão se tornando commodities, como smartphones. Hoje, os processadores dos smartphones são tão rápidos, as resoluções de tela são tão altas, as câmeras são tão precisas e o software está tão aprimorado que parece bobagem até mesmo apresentar ao consumidor as funções básicas do telefone.
Para se destacar da multidão, o design físico e a experiência proporcionada pelo software são as duas melhores opções. Os resultados geralmente são ótimos para os consumidores.
A Samsung tem designs industriais inteligentes, caso do novo Samsung Galaxy S6 Edge, cuja tela de vidro se dobra abruptamente nas bordas. Esses painéis laterais incorporam recursos como luzes cintilantes personalizáveis, que avisam quem está ligando, acesso rápido aos contatos e um relógio-despertador com luz discreta.
Os celulares Lumia, da Microsoft, preservam em seu espírito o design herdado da Nokia: cores brilhantes, bonitas coberturas foscas na parte de trás e a interface personalizável do Windows Phone, com blocos.
A Motorola espera que as tampas traseiras intercambiáveis do seu Moto X, que incluem uma de couro e outra de bambu, além da opção de um monograma pessoal, seduzam consumidores.
O design industrial será cada vez mais importante à medida que os dispositivos se tornarem mais personalizáveis -e fáceis de usar. O Apple Watch levou alguns a questionarem se ele seria suficientemente bonito para substituir relógios de grife como Michael Kors ou Rolex.
“Produtos de tecnologia estão se aproximando do setor de sapatos, bolsas e chapéus”, disse Brett Lovelady, fundador da empresa de design Astro Studios, que criou um dos primeiros aparelhos vestíveis a se popularizarem, o Nike FuelBand.
Lovelady disse que o FuelBand funcionou porque tinha um design que passava uma mensagem de esportividade e força, mas também, fundamentalmente, porque o software motivava as pessoas com animações divertidas, recompensas e interações sociais.
Segundo Maeda, start-ups criadas por designers vem sendo adquiridas por empresas conhecidas por priorizarem a tecnologia. Desde 2010, Google, Facebook, Adobe, Dropbox e Yahoo adquiriram start-ups voltadas para o design, segundo dados colhidos por Maeda.
Ben Blumenfeld, codiretor da empresa de investimentos Designer Fund, disse que algumas empresas e experiências -especialmente as relacionadas a celulares- mostram às pessoas que os sistemas com os quais elas interagem diariamente poderiam ser bem melhores.
“Os médicos estão começando a dizer: ‘Espere aí, porque o meu sistema eletrônico de prontuários não funciona como os aplicativos do meu iPhone?'”, disse. “A demanda por design em outras áreas aumentou.”
A verdadeira vitória do design consiste em levar em conta como determinada pessoa gostaria de usar um aplicativo, se comunicar ou fechar uma transação.
Isso talvez signifique que profissionais habitualmente encarregados de tarefas associadas à produção deveriam aprender design e que novos empregos precisarão ser criados.
Maeda diz que as empresas não se devem deixar enganar pela ideia de que a boa aparência basta para fazer sucesso.
“Não é que o design seja mais importante que a tecnologia ou o modelo de negócios”, afirmou. “Você precisa de ambos.”