Será que autoconfiança é o ponto fraco das executivas?

O assunto é perigoso. Enquanto escrevia seu primeiro livro, “Womenomics: A Tendência Econômica por Trás do Sucesso Pessoal e Profissional das Mulheres”, a jornalista Claire Shipman se surpreendeu com um fato: muitas mulheres com as quais falou disseram não se sentirem qualificadas o suficiente para a posição que haviam conquistado, mesmo sendo reconhecidamente bem-sucedidas. “A palavra com F – “fraude” – aparecia com frequência nas nossas conversas”, diz.

Foi assim que Claire e sua coautora, Katty Kay, tiveram a ideia para o segundo livro fruto da parceria, “A Arte da Autoconfiança”, lançado no mês passado no Brasil pela Benvirá. O trabalho reúne estudos que discutem por que mulheres têm menos confiança no âmbito profissional do que homens e como isso as prejudica na hora de avançar na carreira.

“No geral, mulheres são mais focadas em adquirir competência, enquanto homens têm mais confiança nas próprias habilidades. No entanto, descobrimos que para obter sucesso na carreira a autoconfiança chega a ser mais importante do que a competência”, diz. Claire

Em sua opinião, esse desequilíbrio entre os gêneros aparece de diversas formas. Há, por exemplo, estudos que mostram que mulheres só se candidatam a uma vaga quando reúnem 100% das qualificações exigidas, enquanto homens se arriscam mesmo quando têm apenas metade das habilidades buscadas pelo empregador. Outra pesquisa perguntou a homens e mulheres como eles se saíram em um teste e, mesmo quando ambos tiveram desempenho similar, as mulheres eram mais propensas a dizer que haviam ido mal, enquanto os homens superestimavam a própria performance.

“Todos os dados apontam para um padrão consistente no qual as mulheres desvalorizam as próprias qualificações. Há uma atitude, mesmo em coisas do dia a dia, que faz com que elas não se posicionem mais firmemente”, enfatiza. Isso engloba desde dificuldades para negociar salários ou promoções, até desistir de fazer uma apresentação por achar que ela não está boa o suficiente. “Com o tempo, essas pequenas decisões acumulam.”

Parte do problema está em uma aversão a risco que costuma aparecer com mais frequência nas mulheres – algo explicado tanto por fatores biológicos quanto pelo comportamento exigido de garotas desde cedo. “Para ter confiança é preciso tomar riscos. O processo de agir e talvez falhar, de aprender e eventualmente ser bem-sucedida, é o que cria confiança em uma pessoa”, afirma. No geral, diz Claire, as mulheres tendem a olhar mais para o longo prazo e operar com mais cautela – habilidades que também são extremamente importantes na gestão, mas que precisam ser equilibradas com um apetite maior pelo risco.

Um dos fatores que Claire investigou é porque jovens mulheres com excelentes históricos no colégio e na faculdade acabam perdendo a confiança ao entrarem no mercado de trabalho, ficando para trás ao longo da carreira na comparação com seus colegas do sexo masculino. As regras da vida acadêmica são muito diferentes do mundo real. “Desde cedo, garotas são ensinadas a serem perfeitas, ter bom comportamento e entregarem todos os trabalhos. Quando chegam ao ensino médio, elas se tornaram perfeccionistas – e perfeccionistas não tomam risco por medo de falhar”, explica.

É nesse ponto que empresas podem contribuir para garantir que as profissionais usem todo o seu potencial. De acordo com a autora, as mulheres que estão entrando no mercado de trabalho precisam sair da zona de conforto. “A confiança pode ser construída. Isso é possível ao expor jovens profissionais desde o início da carreira a situações que envolvem risco e até em ações menores, como garantir que todos participem de uma reunião”, afirma.

Outro ponto importante para o desenvolvimento profissional das mulheres, segundo Claire, é que elas interpretam o feedback de maneira diferente, concentrando-se tanto nas críticas negativas que chegam a ignorar os retornos positivos. “Para evitar isso, empresas mais inteligentes instruem os gestores a perguntarem ‘o que você tirou de tudo o que eu disse?’, logo em seguida a uma avaliação”, exemplifica.

Para Claire, um dos fatores mais importantes que impedem a ascensão das mulheres, no entanto, é que não existe igualdade de oportunidades para ambos os sexos – e as empresas precisam ficar atentas a isso. “O mundo do trabalho foi criado por homens e funciona para eles”, diz.

A situação recorrente que muitas executivas em posição de poder vivem – de serem a única em uma sala repleta de homens – tem um efeito negativo na autoconfiança e pode resultar em um desempenho pior.

Por fim, Claire destaca que é preciso ter em mente que o propósito deve ser atingir o equilíbrio entre confiança e competência. “Não pode haver uma distância tão grande entre essas duas coisas. É isso o que leva a resultados desastrosos”, afirma.

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