O “Yumi” sempre opera com pessoas. A função dele é tornar o trabalho mais seguro para os humanos. Na cena que eternizou o filme “Tempos Modernos” (1936), o personagem interpretado por Charles Chaplin aperta parafusos repetidamente em uma linha de produção até ser vencido pela velocidade da máquina e acabar engolido por ela.
Agora, uma nova geração de robôs que começa a chegar ao Brasil promete acabar com todos os problemas de Carlitos: eles apertam parafusos e, diferentemente de outros equipamentos, são seguros para trabalhar ao lado de seres humanos. Yumi é só o primeiro deles. E opera já faz tempo, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, assinada por Giuliana Vallonede, publicada na edição de 23/08 pg B11.
Surgidos nos últimos anos, os chamados “robôs colaborativos” podem ser instalados em linhas de montagem de equipamentos de pequeno porte, como eletrônicos e componentes automotivos, ou auxiliar no controle da qualidade de manufaturados.
“Eles conseguem detectar quando tocam em algo, não há o risco de machucarem o trabalhador. Daí vem o lado colaborativo”, afirma Fernando Osório, professor do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP de São Carlos.
Rizzo Hahn, presidente da Pollux Automation, empresa de Joinville (SC) responsável por trazer os primeiros colaborativos ao país, diz que eles ainda têm como vantagem a facilidade de instalação.
Podem ser implementados em linhas de montagem já construídas, sem necessidade de grandes modificações. A companhia, que hoje importa robôs da dinamarquesa Universal Robots, investiu R$ 10 milhões para fechar 2015 com cerca de cem equipamentos instalados. Para o próximo ano, a intenção é aplicar R$ 40 milhões
Fabricantes estrangeiras de robôs que operam no país começam a mostrar seus dispositivos colaborativos. Na semana passada, a suíça ABB apresentou sua versão, o robô Yumi, em evento em São Paulo. O país será o primeiro da América Latina a receber o dispositivo.
De acordo com Rodrigo Bueno, gerente-geral de Negócios de Robótica da ABB, a expectativa é fechar com até quatro clientes neste ano. “Vamos começar com algumas empresas e, então, criar cases para mostrar a outras”, afirma. Em setembro, será a vez de a Kuka, da Alemanha, exibir seu LBR iiwa.
As primeiras instalações dos robôs, em versões com carga máxima de 7 ou 14 quilos, devem acontecer apenas em 2016, de acordo com Edouard Mekhalian, diretor da companhia no Brasil. Para Ulrich Spiesshofer, presidente-executivo da ABB, há diversas aplicações possíveis para a nova tecnologia na indústria do país. “É seguro, não precisa de uma jaula, é fácil de instalar e adaptável”, afirma.
A busca por inovação levou a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool a instalar o primeiro robô colaborativo do país em sua linha de produção em Joinville, em 2014. “Os nossos produtos têm trazido mais tecnologia e temos levado também mais tecnologia para o processo”, diz Helder Santos, gerente de manufatura da fábrica.
O dispositivo é utilizado para fazer testes de qualidade das geladeiras para cervejas e “trabalha” em dois turnos, de segunda a sábado. No dia da visita da reportagem à fábrica, uma operadora trabalhava ao lado do robô, posicionando os equipamentos que deveriam ser avaliados por ele. “É uma maneira de evitar a fadiga do operador e falhas no processo”, afirma.
Ele ressalta que não houve demissões com a novidade: os trabalhadores foram redirecionados para outras áreas. Como toda tecnologia, no entanto, os robôs colaborativos já suscitam debates sobre o fechamento de postos de trabalho que podem gerar.
Para Spiesshofer, da ABB, o propósito da solução é tornar o trabalho mais seguro para os humanos. “O Yumi sempre opera com pessoas.”