A diplomacia brasileira escolheu o meio termo para as suas ambições na Rio + 20. Nem muito nem pouco. E, fixou objetivo bem claro: não repetir o fracasso da Conferência do Clima de Copenhague de 2009 que acabou sem nem um texto final, nem qualquer compromisso de ninguém. O documento final da Reunião Preparatória da Rio + 20 mostrou que o Itamaraty chegou perto do que queria.
O acordo alcançado no texto final (283 parágrafos e 49 páginas) não contentou inteiramente a nenhum dos interesses em jogo. Na verdade, o que mais o Brasil queria evitar era um impasse na reunião dos chefes de Estado de amanhã que “não decidisse nada”. Nessa situação, era grande o risco de um retrocesso em vários pontos que já estavam acertados desde a Rio 92, há vinte anos.
É preciso entender o porquê da briga. Os europeus queriam uma “forte adesão aos princípios da economia verde” sem deixar claro quem pagaria a conta. Os americanos não queriam maiores compromissos com alterações muito sérias em padrões de consumo e de produção para alcançar um modelo econômico sustentável. Os países pobres deixaram bem claro: não aceitariam que princípios de sustentabilidade significassem barreiras para seus produtos. Os asiáticos transitavam entre essas três exigências, concordando ou discordando de partes de cada uma delas, conforme seus interesses.
Não seria fácil achar um consenso nesse quadro. Na prática, sem um documento final aprovado na reunião preparatória o risco de “repetir Copenhague” era alto. Diminuir as ambições (principalmente de tempo para se alcançar economia sustentável) permitiu que os 193 países presentes na Rio + 20 assinassem o texto final. A rigor, o avanço maior foi a criação de um agenda ambiental de discussões para os próximos três anos, o que quer dizer: o sistema multilateral de decisão foi salvo. Ou seja, nenhum país pode dizer “não brinco mais” quanto a discussões ambientais, acelerando crescimento sem qualquer preocupação ecológica.
É faro que decisões concretas, com metas e objetivos não sairão da Rio + 20. Em alguns pontos, por exemplo, proteção dos oceanos (parágrafo 162 do documento) a posição brasileira e europeia de criar mecanismo legal para proteger a biodiversidade em alto-mar, foi derrotada. Sobre esse tema, leia mais na seção O melhor de Hoje. Não se ganha todas, como qualquer bom jogador sabe.