Logo depois de um ataque em massa a tiros nos Estados Unidos, a resposta usual é dupla: lamentar as vítimas e aguardar pelos fatos. Está ficando cada vez mais difícil justificar o segundo ponto. Em outras áreas do debate público, os fatos podem ser usados para guiar uma análise de qualquer resposta política proposta. O problema é que uma análise isenta das leis de segurança de armas, não importa o quão adiadas, nunca penetram na sala de pânico na qual os políticos fogem de suas responsabilidades.
Depois que um jovem enlouquecido usou as armas de fácil acesso de sua mãe, em 2012, para matar alunos e professores de uma escola de Newtown, em Connecticut, questões como a maneira adequada de se guardar armas e os desafios de se equilibrar os direitos legais da posse de armas e os riscos à saúde mental ficaram óbvias, como mostrou matéria distribuída pela Bloomberg, publicada no Valor de 3/10.
Nada aconteceu no Congresso. Em vez disso, o lobby das armas e o movimento extremista que ele alimenta, provocaram rebuliço legislativo nos Estados conservadores – promovendo armas em igrejas, bares, parques e universidades, dissimulada e abertamente.
Agora, os republicanos da Câmara dos Deputados estão focados numa legislação para tornar o crime mais conveniente, acabando com regras para o uso de silenciadores, permitindo que armas ocultas sejam carregadas em lugares onde elas não são bem-vindas, e por pessoas sem treinamento ou verificação de antecedentes.
A cada massacre – de uma igreja em Charleston, na Carolina do Sul, a um clube noturno em Orlando, na Flórida – e a cada tiroteio sem sentido e que poderia ser evitado, em que uma criança pega uma arma de um adulto irresponsável, o lobby das armas e seus guerreiros emitem o mesmo apelo doentio: conter o efeito da existência de muitas armas com mais armas e menos restrições ao seu uso.
Em Las Vegas, uma das máximas favoritas da National Rifle Association (NRA) – a única coisa que para um cara ruim armado é um cara bom armado – foi exposta mais uma vez, não apenas como falsa, mas também como tragicamente absurda. Se a discussão sobre as armas nos EUA parece paralisada, é porque o argumento, na ausência da razão e dos fatos, é circular.
Assim, uma porta-voz da Casa Branca de Donald Trump, que já disse ser “amiga” da NRA, afirma ser inadequado discutir soluções contra a violência com armas tão logo após um incidente de violência em massa envolvendo armas.
Há discussões legítimas sobre o alcance da Segunda Emenda (sobre o direito de portar armas), a eficácia das regras específicas para as armas e o direito de autoproteção. Nada disso está em discussão no Congresso, e pouco nas esferas estaduais, porque políticos endossam conversas vazias, em vez de fazerem uma avaliação honesta de que mais armas e menos regulamentação é a receita para o caos.
O ciclo de violência que poderia ser evitado e discussões sem sentido não acabará enquanto políticos e donos de armas responsáveis não reconhecerem o óbvio: restrições sensatas à posse e uso de armas são constitucionais e necessárias.