Reino Unido teme ameaça militar russa, revê política de segurança

O primeiro-ministro do Reino UnidoKeir Starmer, prometeu deixar o país em estado de prontidão para enfrentar possíveis guerras diante da hostilidade da Rússia. Para isso, ele anunciou investimentos de bilhões de libras em armas e planos de construir novos submarinos de ataque.

O programa de rearmamento é parte da revisão da estratégia de defesa do governo, que descreveu o cenário como ameaçador.

“A ameaça que enfrentamos agora é mais séria, mais imediata e mais imprevisível do que em qualquer outro momento desde a Guerra Fria”, disse Starmer nesta segunda-feira, 2, citando a guerra na Europa, riscos nucleares, ataques cibernéticos e a crescente agressão russa nas águas e céus britânicos.

A revisão estratégica, liderada por George Robertson, ex-secretário-geral da OTAN, começou no ano passado, logo após a vitória do trabalhista nas eleições britânicas, mas ganhou urgência com o retorno de Donald Trump nos EUA.

Sob o republicano, o compromisso americano com a segurança europeia deu sinais de enfraquecimento enquanto Donald Trump adotava posições favoráveis à Rússia ao pressionar pelo fim da guerra na Ucrânia.

Em seu discurso, Starmer fez questão de reafirmar o compromisso do Reino Unido com a OTAN.

A estratégia de defesa britânica prevê a aquisição de até 7 mil armas de longo alcance fabricadas no Reino Unido, além de drones, que se mostraram altamente eficazes na guerra da Ucrânia.

As recomendações incluem também a criação de um novo comando cibernético, com investimento de 1 bilhão de libras em capacidades digitais.

Mais 1,5 bilhão de libras serão destinados à reforma e renovação de moradias militares, para incentivar o recrutamento e a retenção de soldados no Exército do Reino Unido, que tem seu menor contingente desde a era napoleônica.

A revisão propõe que os jovens aprendam na escola sobre o papel das Forças Armadas, como parte de uma “conversa nacional” para garantir a prontidão do Reino Unido em caso de guerra. A legislação deve ser atualizada para conceder mais poderes de reserva ao governo em caso de escalada.

“Esta é a revisão de defesa mais ambiciosa de uma geração. E era necessário que fosse assim,” disse Malcolm Chalmers, vice-diretor do Royal United Services Institute, think tank com sede em Londres.

O governo descreveu a nova estratégia como uma “mudança histórica na dissuasão e defesa, indo em direção à prontidão para combate.”

E destacou os benefícios dos gastos com rearmamento para a economia britânica, mas a grande dúvida é até que ponto Londres pode arcar com os custos da nova estratégia em tempos de aperto fiscal.

Starmer prometeu realocar recursos da ajuda internacional para aumentar os investimentos em Defesa a 2,5% do PIB. Em entrevista BBC, o primeiro-ministro admitiu que o Reino Unido precisa ir além disse, mas que não pode estabelecer um prazo para atingir 3% do PIB em gastos militares até ter certeza de onde virá o dinheiro.

Em comunicado, o governo anunciou também a ampliação da frota de submarinos nucleares armados, com a construção de até 12 novas unidades. A expansão é parte da aliança de segurança que o Reino Unido mantém com EUA e Austrália para conter a influência da China.

A revisão também sugeriu a compra de caças capazes de lançar armas nucleares táticas, o que pode apontar para redução da dependência do guarda-chuva nuclear dos Estados Unidos.

Desde 2ª Guerra, a estratégia de defesa britânica é revisada pelo menos uma vez a cada década. A recomendação mais recente foi produzida em 2021 e atualizada em 2023.

A versão elaborada pelo governo do conservador Boris Johnson prometia estreitar laços com os EUA, contrastando com a atual. Naquele momento, a revisão refletia a visão de Johnson para o Reino Unido pós-Brexit. Agora, no entanto, Starmer tem buscado uma reaproximação com a União Europeia./NY TIMES

https://www.estadao.com.br/internacional/reino-unido-teme-ameaca-militar-russa-reve-politica-de-seguranca-e-investira-em-submarinos-e-armas

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