O investidor em “startups” Jason Calacanis fez uma aposta de US$ 25 mil há cinco anos em uma empresa que quase ninguém conhecia, a UberCab. O investimento na empresa, que agora se chama Uber Technologies Inc., hoje vale US$ 110 milhões.
Calacanis nunca disse publicamente de onde veio o dinheiro: da Sequoia Capital, uma das maiores empresas de capital de risco do Vale do Silício. Desde 2009, a Sequoia destinou milhões de dólares para uma série de empresários, acadêmicos e outras pessoas bem conectadas, conhecidas como “scouts”, ou “olheiros”: observadores que identificam boas oportunidades para empresas de capital de risco investir em startups, como mostrou materia do The WallStreet Journal, assinada por Rolfe Winkler, publicada no Valor de 17/11, pg B14.
Esses olheiros investem o dinheiro em startups e ficam atentos a ideias que possam agradar a Sequoia. Calacanis apresentou o fundador da Thumbtack Inc. a um sócio da Sequoia, que comprou uma participação no site de serviços locais cujo valor se multiplicou por 50 desde então, estima a firma de pesquisas VCExperts.
Os fundadores da Thumbtack agora também repassam dicas para a Sequoia. “A Sequoia foi muito importante para nós, então ficamos felizes em colocar outros empresários de alta qualidade em seu caminho”, diz Marco Zappacosta, diretor-presidente da Thumbtack. Ele fez alguns investimentos em startups sozinho, usando o dinheiro da Sequoia.
Tal ecossistema secreto de dinheiro e conexões é um exemplo poderoso e inusitado de como as empresas de capital de risco tentam ganhar uma vantagem na eterna busca pelo próximo grande sucesso. Essa busca ficou mais complicada agora que algumas startups que alcançaram avaliações altíssimas estão enfrentando problemas.
A maioria dos olheiros da Sequoia são empresários cujas startups foram financiadas pela firma. Isso significa que eles sabem muito bem o que a Sequoia procura e recomendarão a empresa a outros empreendedores.
A Sequoia é há décadas uma presença constante no setor de capital de risco. Sediada em Menlo Park, na Califórnia, na Sand Hill Road, a meca das empresas de capital de risco do Vale do Silício, a Sequoia fez apostas há muito tempo em empresas que hoje são titãs da tecnologia, como Apple Inc., Google Inc. e Cisco Systems Inc.
A Sequoia foi a única empresa de capital de risco que apostou na dona do app de mensagens WhatsApp, vendida ao Facebook Inc. no ano passado por US$ 22 bilhões. A firma investiu cerca de US$ 60 milhões em uma participação hoje avaliada em US$ 3,5 bilhões. A Sequoia agora possui fatias em 33 empresas de capital fechado financiadas por firmas de capital de risco e avaliadas em mais de US$ 1 bilhão cada, uma carteira maior que a de qualquer outra empresa de capital de risco.
O histórico de negócios da Sequoia abre muitas portas e a empresa abre ainda outras com seu cultivo cuidadoso de olheiros.
Essa rede de contatos inclui o diretor-presidente do Dropbox Inc., Drew Houston; os três fundadores do Airbnb Inc.; Mike Vernal, executivo do Facebook; professores da Universidade Stanford e da Universidade da Califórnia em Berkeley; e a filha de Douglas Leone, um dos sócios da Sequoia, segundo documentos analisados pelo The Wall Street Journal.
Os olheiros da Sequoia colocaram dinheiro em dezenas de startups, segundo esses documentos e entrevistas com olheiros. O WSJ não conseguiu calcular um valor exato porque os investimentos são pulverizados e os executivos da firma não quiseram discutir a abrangência do programa.
“Todo mundo no setor tenta gerar um fluxo de negócio próprio”, diz Roelof Botha, sócio da Sequoia responsável pelo programa. “Isso é parte do desafio do nosso negócio: Como se tornar diferenciado na mente de um empreendedor?”
Ele acrescenta: “Com sorte, [um investimento de um olheiro] significa que nós temos uma oportunidade melhor de encontrar aquela empresa num determinado momento e avaliar se será um bom investimento para nós.”
Se um investimento de um olheiro tem sucesso, a maior parte dos ganhos é dividida entre o olheiro e os sócios controladores da Sequoia, diz Botha. Outros olheiros e os demais sócios recebem uma pequena parte dos lucros. A maioria dos ganhos desde que o programa foi criado, em 2009, são investimentos não realizados e não lucros reais, diz Botha.
A Sequoia afirma que instrui os olheiros a revelar às startups a origem do dinheiro que investem. Mas a empresa tenta esconder seus investimentos das rivais através do uso empresas de responsabilidade limitada com nomes estranhos, como Dragonsteed LLC, Vermillistock LLC e Rocketbooster LLC.
A Sequoia confirmou os nomes de vários “scouts”. Quando contatados pelo WSJ, muitos confirmaram sua participação ou não quiseram comentar.
Como outras empresas de capital de risco, a Sequoia também recorre às universidades. Além de um pequeno número de professores que são olheiros, uma equipe de estudantes voluntários em Stanford, na Universidade de Harvard, Universidade de Columbia e outras faculdades de elite busca ideias e empresários promissores.
“As empresas de capital de risco querem seus nomes nas universidades”, diz Daniel Liem, acrescentando que foi olheiro da Sequoia quando estudava ciência da computação em Stanford. “Eles querem encontrar o próximo Zuckerberg ou Spiegel”, diz ele, referindo-se aos fundadores do Facebook e do Snapchat Inc.
Os US$ 25 mil da Sequoia que Calacanis investiu na Uber foram parte da primeira rodada de captação de recursos do serviço de carona paga, que levantou menos de US$ 2 milhões. Desde então, o financiamento total da Uber saltou para mais de US$ 8 bilhões. A Uber foi avaliada recentemente em US$ 51 bilhões, o que a tornou a firma de capital de risco mais valiosa do setor mundial de tecnologia. A fatia inicial da Sequoia agora deve valer mais de US$ 40 milhões. Calacanis disse que não vendeu nenhuma ação da Uber e a Sequoia não investiu mais na firma desde então.