Racha democrata ameaça a agenda econômica de Biden

A ambiciosa agenda de política interna de Joe Biden enfrenta um grande teste nesta semana, quando facções divergentes dentro de seu próprio Partido Democrata se confrontarão sobre qual a melhor forma de aprovar um projeto de lei de obras de infraestrutura e um pacote, muito maior, de investimentos, de US$ 3,5 trilhões. 

Enquanto o governo se vê afundado no caos no Afeganistão, a Câmara dos Deputados antecipou a volta do seu recesso no verão americano para debater os planos de gastos do presidente, incluindo um orçamento multitrilionário. 

Líderes democratas e a Casa Branca tentam aprovar o gigantesco orçamento e o pacote bipartidário de infraestrutura em conjunto, de forma a satisfazer tanto a ala progressista quanto a moderada do partido. A tática, contudo, têm exposto fortes divisões entre os democratas- e aumentado a possibilidade de que nem o orçamento nem o pacote de infraestrutura consigam os votos necessários. 

Neste mês, o Senado aprovou o pacote de infraestrutura, que disponibilizará centenas de bilhões de dólares para modernizar os decadentes sistemas de transporte nos EUA, num raro caso de aprovação bipartidária: 19 republicanos votaram a favor, junto com todos os 50 senadores democratas. 

O projeto, porém, ainda precisa ser aprovado pela Câmara, e a presidente democrata da casa, Nancy Pelosi, disse que pretende considerar a proposta de orçamento primeiro, para depois voltar a atenção à de infraestrutura. 

Diferentemente do projeto de infraestrutura, o plano orçamentário está sendo levado adiante por meio de um procedimento chamado reconciliação, que permite aos senadores democratas aprová-lo sem o apoio de republicanos, evitando a necessidade de conseguir um mínimo de 60 votos. 

O orçamento foi aprovado no Senado neste mês e inclui muitas das principais promessas da campanha eleitoral de Biden, como a expansão do sistema de saúde público Medicare e fundos adicionais para combater as mudanças climáticas. 

Os senadores democratas moderados Joe Manchin e Kyrsten Sinema votaram a favor do plano orçamentário, mas ressaltaram que não darão aval a um pacote final com uma quantia tão alta. 

Pelosi tenta dar prioridade ao plano orçamentário para satisfazer deputados esquerdistas, como Alexandria Ocasio-Cortez, que veem o pacote de infraestrutura como insuficiente e desejam garantias de que o plano orçamentário não será reduzido demais. 

Nos últimos dias, no entanto, pelo menos nove deputados moderados expressaram receio quanto ao custo do orçamento e insistiram que eles deveriam votar primeiro o pacote de infraestrutura. Esses deputados, incluindo Josh Gottheimer, de Nova Jersey, e Jared Golden, do Maine, disseram que não votarão a favor do orçamento se não forem ouvidos. Suas ameaças têm peso, já que os democratas controlam a Câmara por uma margem de apenas oito votos – e é improvável que os republicanos apoiem o plano orçamentário. 

“Temos os votos para aprovar a lei neste momento, e é por isso que acredito que deveríamos primeiro votar imediatamente no pacote de infraestrutura bipartidário, enviá-lo à mesa do presidente, e, então, rapidamente considerar a resolução orçamentária, que eu pretendo apoiar”, disse Gottheimer ontem pela manhã. 

Golden tuitou sobre o assunto. “A hora para [termos] melhores estradas, pontes e banda larga não é depois de meses de disputas em Washington: é agora.” 

No domingo, um dos deputados, Ro Khanna, instou seus colegas a não impedir a aprovação. “Uma votação contra a agenda de Biden nesta semana não é apenas um tapa na cara do presidente, ela obstruirá qualquer chance de adotar as políticas que nos definem como democratas.” 

Na semana passada, houve a impressão de que Pelosi havia oferecido uma solução, ao pedir aos parlamentares para elaborar uma regra que avançasse com as duas propostas ao mesmo tempo e, posteriormente, indicado que essa regra poderia incluir na sequência a lei sobre direito a voto. O plano foi apoiado pela Casa Branca. 

“A Câmara prosseguiria com uma regra que nos permitiria levar adiante a resolução orçamentária, o projeto de lei bipartidário de infraestrutura e o HR4 [de direito a voto] de forma que possamos progredir rumo à forte visão compartilhada pelos democratas”, disse Pelosi em carta aos congressistas na quinta-feira, após reunir-se com Biden. 

No sábado à noite, Pelosi escreveu a seus colegas pedindo para que aprovassem os dois projetos até 1o de outubro. “Qualquer atraso em aprovar a resolução orçamentária coloca em risco o cronograma para proporcionar o histórico progresso e a visão transformadora compartilhada pelos democratas”, acrescentou Pelosi. 

Até sexta-feira, contudo, nenhum dos descontentes deputados democratas moderados havia indicado estar satisfeito com a solução de Pelosi, elevando as chances de um impasse nesta semana. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/08/23/racha-democrata-ameaca-a-agenda-economica-de-biden.ghtml

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