Deterioração ou Ajustes das Expectativas Econômicas?

Fabio Pereira de Andrade

Esperança e medo potencializam ações, não necessariamente positivas! A partir dessa afirmação é possível pensar na assertividade de expectativas econômicas.

No campo comportamental, desde a década de 1950 as limitações de avaliação humana foram sistematizadas por Herbert Simon. Na década de 1970 acrescentou-se o conhecimento acerca dos vieses relacionados a percepção de perda, os quais nos remetem aos trabalhos de Amos Tvresky e Daniel Kanheman. Em 2007 o pesquisador britânico Roy Batchelor demonstrou a predominância de viés otimista nas projeções para Produto Interno Bruto (PIB) e Índices de Inflação em instituições financeiras do G-7; a pesquisa considerou o período 1990-2005, esse otimismo foi explicado pela tentativa de atores se diferenciarem, tendo em vista possíveis retornos em termos de publicidade. 

A partir dessa relação entre conceito e empiria, os estudos sobre vieses foram aplicados para o Brasil em 2021, Henry Nasser e Rodrigo de Losso. A pesquisa realizada no Brasil tomou como referência as projeções para PIB e Inflação (IPCA) contidas no Relatório Focus do Banco Central, os dados foram organizados mensalmente para o período de 2000 a 2018. Nasser e Losso no geral encontraram resultados similares aos de Batchelor, ou seja, o cotejo das projeções frente aos resultados demonstra um viés otimista, adicionalmente, os pesquisadores detectaram uma peculiaridade na dinâmica, especificamente, no início de cada ano as projeções de IPCA demonstram um conservadorismo, seguido de otimismo que buscam ajustar aos valores observados no acumulado do ano.

Os comportamentos identificados na pesquisa de Nasser e Losso podem auxiliar numa avaliação da conjuntura atual. O Relatório Focus divulgado em 23/08/2021 nos mostra uma reversão da expectativa de crescimento do PIB, bem como, expectativa de IPCA que projetam um resultado acima da meta do Banco Central para 2021. Ademais a expectativas de crescimento inflacionário perdura por 20 semanas! Tais dados sugerem que há uma retroalimentação entre conjuntura frágil e expectativas negativas.  

A luz da análise comportamental, os resultados projetados no Relatório Focus ampliam a preocupação, pois em termos de expectativas inflacionárias, o segundo semestre é caracterizado por um otimismo em relação as projeções do primeiro semestre, ou seja, é bem provável que as atuais projeções de IPCA estejam a subestimar o resultado desse indicador para o final do ano de 2021. Quanto as estimativas para crescimento do PIB, precisamos ter preocupação redobrada, pois no momento de otimismo, essas estimativas estão sendo revisadas para valores menores pela segunda semana consecutiva.

Quais as possíveis explicações para a deterioração das expectativas? A hipótese mais plausível está na mudança do ambiente político, além dessa, há duas explicações alternativas: 1) a Medida Provisória (MP) 1061/2021, que suscita dúvidas acerca do compromisso com a gestão da Dívida Pública; 2) a deterioração dos indicadores Dívida/PIB. Ou seja, as conjunturas políticas e econômica brasileira emitem poucos sinais para esperança, as quais comprometem as expectativas!! Para o dia-a-dia dos negócios, o ambiente externo continua volátil e arriscado. 

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