Afinal, o que realmente queria o Brasil com a Rio + 20? Essa resposta envolve a ideia de sucesso construída para a conferência. Muita gente entendeu que a declaração final do encontro deveria conter datas e prazos, para que o mundo alcançasse padrões de proteção ambiental, melhores do que os de hoje. Tudo bem definido, principalmente, sobre quem pagaria a conta, quem mandaria dinheiro a quem, para que o meio ambiente fosse preservado.
O mundo real é bem diferente da vontade dos bem intencionados. O Brasil fechou suas efetivas ambições na Rio + 20 com dois parceiros: a Índia e a China. A estratégia do Brasil, com seus dois fortes aliados era juntar proteção ambiental e combate à pobreza.
O que esses três países emergentes entendiam – e perseguiram na conferência – como sucesso é completamente diferente do que outras potências econômicas queriam como “resultado” na Rio + 20. Para estes, os pobres deveriam se comprometer com metas ambientais bem rigorosas e ponto final. Se isso aumentaria a pobreza, problema deles.
No fundo, a discussão era bem clara: quem pagaria a conta da proteção do planeta: os ricos, por meio de ajuda internacional, ou os pobres, com a prejudicial mistura de proteção ambiental com barreiras comerciais?
Uma lembrança essencial é que desde 1970, os países ricos concordaram (em muitas reuniões no âmbito da ONU) em doar 0,7% dos seus respectivos PIBs para ajudar os países pobres, inclusive para produção ambientalmente correta. Só cinco países fazem isso: Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda e Luxemburgo.
O Documento Final da Rio + 20 exigiu exatamente isso: que os ricos cumpram o que sempre prometeram e nunca fizeram, com as exceções anotadas. Se os ricos cumprissem essa regra, no mínimo US$ 200 bilhões estariam disponíveis para ajudar países muito pobres. SE obedecida essa promessa o próximo passo seria exigir dos países pobres que fossem responsáveis ambientalmente com a ajuda que recebessem.
Os países ricos sempre “melaram” o jogo nas outras conferências e deixaram essa cobrança esquecida porque sem consenso, não havia documento final. A Carta de Princípios aprovada na Rio + 20 deixa bem claro que “compromissos” anteriormente assinados por todos devem ser cumpridos. Ou seja, agora há documento aprovado que define a responsabilidade de contribuir, devidamente aprovado pelos 193 países presentes. Sobre esse assunto leia O melhor de hoje.
Os compromissos internacionais mudaram na direção de uma economia verde entendida como soma de proteção ambiental e combate à pobreza. Ponto para o que pretendiam Brasil, China e Índia. Foi nesse sentido que os governos desses três países consideraram a Rio + 20 um sucesso. ONGs e entidades internacionais insistem que não ocorreu avanço na Rio + 20. O comportamento low profile dos países ricos na conferência, especialmente dos EUA , sugere quem tem razão nessa discussão sobre se ocorreu ou não avanço na Rio + 20.