Presidente da Toyota dá o tom da nova fase das montadoras

O espaço está totalmente tomado por um batalhão de jornalistas e equipamentos fotográficos. Na tela gigante, atrás do palco vazio, começa a projeção de um desenho animado cujo personagem é Morizo, caricatura de Akio Toyoda, presidente da Toyota. “Hoje eu não quero falar de carros, mas de pessoas”, diz Morizo, nome que, descobriu-se, com o passar do tempo, foi o pseudônimo que Toyoda certa vez usou para participar de uma corrida de automóveis.
O neto do fundador de uma das gigantes da indústria automobilística aparece na sequência, em carne e osso, a bordo do e-Palette, um veículo autônomo, de uso compartilhado que a Toyota, patrocinadora da Olimpíada de Tóquio em 2020, oferecerá para o transporte dos atletas. O executivo começa um diálogo com Morizo.
No palco, aparece o protótipo de um carro de corrida elétrico e Toyoda diz que no futuro, acontecerá com o carro o mesmo que ocorreu com os cavalos. “Nos Estados Unidos, o nascimento do automóvel fez com que 15 milhões de cavalos fossem substituídos por carros. Mesmo assim, ainda temos corridas de cavalos.”
O estande da Toyota, o maior de todos, fica numa área separada, a quase dois quilômetros do pavilhão principal do 46o Salão do Automóvel de Tóquio. O objetivo de um cenário diferenciado é atrair jovens e crianças a um tipo de exibição cujo formato estático começa a perder sentido. Além dos veículos, o estande exibe certas excentricidades, como uma vassoura sobre rodas montada numa espécie de patinete. “Ainda não está pronta para voar”, disse Toyoda.
O executivo terminou a apresentação de 20 minutos à imprensa com o sorriso e entusiasmo habituais. Mas com uma mensagem incomum numa exposição de carros. “Acredito que quanto mais a automação avança, mais as capacidades do ser humano são colocadas à prova.” De braços abertos, como se encerrasse uma peça teatral, ele declamou que uma sociedade conectada significa “uma sociedade na qual o calor e a bondade das pessoas podem ser sentidos”.
O tom dramático que Toyoda levou ao palco de seu estande revela o quanto a indústria automobilística tem usado os últimos salões internacionais para fazer uma reflexão sobre si mesma. Há pouco mais de um mês, em Frankfurt, o maior salão do automóvel do mundo foi marcado pela ausência de várias montadoras.
O mesmo acontece, agora, em Tóquio, na exposição aberta a convidados ontem e ao público a partir de amanhã. O salão que era internacional, com presenças de grandes fabricantes americanos e europeus, transformou-se numa mostra quase que toda voltada à indústria japonesa. As exceções ficam por conta de Mercedes- Benz e Renault, com um minúsculo estande instalado na frente da Nissan, sua parceria numa aliança.
Se no passado o salão de Tóquio costumava ser um dos mais arrojados em conceitos futurísticos, hoje seus participantes parecem preocupados com incógnitas que mexem com o presente, como a necessidade de produzir carros interessantes na era da conectividade a custos que não espantem um consumidor já arredio à ideia de ser dono de um automóvel.
O tema do momento não é tanto pensar como será o carro das próximas décadas, mas como enfrentar questões que exigem soluções daqui a menos de um ano, como normas de emissões mais rígidas na Europa. Isso leva expositores a usar a mostra para enaltecer seus projetos de energias limpas.
Mas o salão do Japão deste ano marca a ausência não só de montadoras de outros países, mas também de uma antiga liderança da sua própria indústria, que costumava ser uma das principais atrações da exposição durante as apresentações à imprensa.
O salão deste ano não terá Carlos Ghosn, detido há quase um ano e agora em prisão domiciliar por suspeita de uso indevido de dinheiro da Nissan, onde foi presidente ao mesmo tempo em que comandou a aliança que reúne a marca japonesa e a Renault. Talvez isso tenha ajudado a intensificar o protagonismo de Akio Toyoda.

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/10/25/presidente-da-toyota-da-o-tom-da-nova-fase-das-montadoras.ghtml

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