Preço do gás segue subindo e pressiona inflação na Europa

Os preços do gás natural subiram mais uma vez ontem na Europa e no Reino Unido, pressionando ainda mais a inflação já elevada na região, que no mês passado atingiu taxas não vistas há pelo menos uma década. 

Dados divulgados ontem pela Eurostat confirmaram a leitura prévia de que o índice de preços ao consumidor (IPC) na zona do euro acelerou para 4,1% em outubro, nível mais alto em 13 anos. No Reino Unido, o IPC avançou acima do esperado, para 4,2%, patamar mais alto desde dezembro de 2011, segundo dados oficiais. 

Os níveis recordes de preços do gás natural em outubro tiveram influência direta sobre a inflação. No Reino Unido, a alta do IPC ocorreu após o regulador do setor de energia ter permitido que as empresas aumentassem as tarifas em até 12% para compensar o aumento dos custos no atacado. Na zona do euro, os preços da energia dispararam 23,7% em outubro na comparação com o mesmo período do ano passado. 

Ontem, na máxima do dia, o preço do gás de referência no mercado europeu chegou a subir em torno de 7%, para € 101,60 por megawatt-hora, de € 64 na semana passada. No Reino Unido, o preço do gás chegou a subir 5%, para 2,51 libras por 100 mil BTU (unidades térmicas britânicas), de 1,79 libras na semana passada. No fechamento, os preços do gás reduziram os ganhos para € 95,50 na Europa e a 2,38 libras no Reino Unido. 

A nova alta nos preços ocorre após a Alemanha ter anunciado na terça-feira que suspenderia o processo de certificação do Nord Stream 2, gasoduto que liga o país diretamente à Rússia. Analistas agora esperam que as operações só comecem no início de 2022. 

A suspensão, que a Alemanha diz ser baseada em uma questão puramente burocrática, acrescenta um novo elemento geopolítico à crise de energia que afeta toda a Europa. Depois de atingir um recorde histórico em outubro, o preço do gás natural recuou ligeiramente na região com o anúncio do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que a estatal Gazprom aumentaria o fornecimento a partir de novembro. 

“A suspensão do processo de certificação do Nord Stream 2 permitiu que o impulso de alta tomasse conta [do mercado] novamente”, disse Zongqiang Luo, da consultoria Rystad Energy, ao “Financial Times”. “Os fluxos russos para a Europa através da Ucrânia e da Polônia aumentaram marginalmente na semana, embora permaneçam muito abaixo de um nível adequado para um inverno frio.” 

A Rússia tem sido acusada por autoridades europeias de limitar o fornecimento de gás à região como forma de pressionar a Alemanha e a Comissão Europeia a acelerarem a aprovação do Nord Stream 2, projeto polêmico que é questionado por vários países, como EUA e Ucrânia. 

Além disso, a suspensão ocorre em um momento em que a União Europeia (UE) aumenta as sanções contra Belarus em resposta à crise migratória na fronteira com a Polônia e enquanto a Rússia aumenta sua militar perto da Ucrânia, gerando alertas dos EUA de que Moscou estaria planejando uma invasão do país vizinho. 

Analistas avaliam que os preços do gás continuarão em alta diante da forte recuperação pós-pandemia da demanda. A pressão sobre a oferta é agravada pelo aumento das compras de gás natural liquefeito pelos países da Ásia. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/11/18/preco-do-gas-segue-subindo-e-pressiona-inflacao-na-europa.ghtml

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