Os líderes chineses estão tentando reverter uma forte desaceleração do crescimento sem abandonar as políticas que provocaram grande parte dessa fraqueza, uma tarefa complicada que testará a habilidade de Pequim de administrar um pouso suave para a segunda maior economia do mundo.
Nas últimas semanas, a China anunciou uma série de medidas de flexibilização de políticas para evitar uma espiral de queda no mercado imobiliário e reacender o crescimento como um todo da economia, que teve uma desaceleração significativa no terceiro trimestre. As medidas mais recentes incluem a facilitação dos financiamentos imobiliários e um corte inesperado, nesta semana, no volume de dinheiro que os bancos são obrigados a manter, o que poderá reduzir os custos dos financiamentos para as empresas.
Economistas acreditam que novas medidas serão anunciadas nas próximas semanas, inclusive para acomodar um crescimento mais rápido do crédito e cortes de impostos para pequenas empresas. Alguns economistas veem espaço para redução nas taxas básicas de juros, estáveis desde abril de 2020.
Pequim terá de intensificar a flexibilização de políticas para evitar uma aterrissagem brusca da economia nos próximos meses, segundo análise do Banco Nomura. Mas muitos economistas acreditam que as autoridades relutarão em recorrer a medidas muito agressivas, como uma grande ampliação de empréstimos bancários ou gastos em projetos de infraestrutura como pontes e aeroportos.
As autoridades também estão comprometidas com políticas impostas no último ano, apoiadas pelo líder Xi Jinping, para cumprir metas de longo prazo como a redução do endividamento e a eliminação do comportamento especulativo, especialmente no setor imobiliário. O BC chinês disse nesta semana que evitará inundar a economia com estímulos.
“Isso exemplifica a contradição entre a tentativa de impor disciplina de mercado e conter desequilíbrios no mercado financeiro alimentados pelo crédito, ao mesmo tempo que o governo mantém uma trajetória estável de crescimento”, diz Eswar Prasad, professor de política comercial e economia da Universidade Cornell.
Os dilemas de política econômica devem aumentar nos próximos meses diante da reformulação na cúpula do Partido Comunista no fim de 2022. Os líderes chineses veem um forte crescimento como garantia de estabilidade antes de grandes acontecimentos políticos.
A variante ômicron da covid-19 está adicionando novas incertezas às perspectivas. A China continua registrando poucos casos de covid, mas vem mantendo rígidos “lockdowns” que abalam o sentimento do consumidor. Além disso, o surgimento da ômicron torna menos provável a reversão das restrições.
Por um tempo, após o início da pandemia, a economia da China pareceu forte. Foi a única grande economia a crescer em 2020. A sólida atividade no começo de 2021 praticamente garantiu um forte crescimento para o ano como um todo, com as prévias indicando um aumento do PIB de cerca de 8%.
Tranquilizados por essa perspectiva, os líderes chineses endureceram regras para empresas de tecnologia, ensino privado e do setor imobiliários para ajudar a erradicar os investimentos irracionais e reduzir a desigualdade social.
Mas economistas afirmam que algumas das medidas, especialmente restrições aos empréstimos para incorporadoras altamente alavancadas, podem ter sido exageradas, causando uma desaceleração maior que a esperada. Algumas incorporadoras estão caindo em default. Dados da China Real Estate Information Corp mostram que as vendas das 100 maiores incorporadoras chinesas caíram pelo quinto mês seguido em novembro, recuando 37,6% em valor em relação a igual mês de 2020.
Muitos economistas projetam crescimento de cerca de 5% para 2022, o que seria uma das menores taxas em décadas. Alguns afirmam que essa taxa poderá ser ainda menor se a desaceleração do setor imobiliário piorar e se tornar mais parecida com a de 2014, quando o mercado foi abalado por preços em queda e estoques elevados.
Na esteira da desaceleração imobiliária de 2014 e da crise financeira de 2008, a China empregou generosos estímulos, incluindo cortes dos juros e investimentos imobiliários e em infraestrutura.
Essa resposta revitalizou a economia, mas sobrecarregou o sistema financeiro com muitas dívidas. As medidas também cultivaram uma mentalidade entre os investidores e compradores de casas, de que o governo chinês não permitiria grandes perdas em investimentos ou nos valores das moradias, por temer convulsões sociais.
Desta vez, a China vem caminhando com cautela, com medidas mais modestas. Desde o fim de setembro as autoridades amenizaram as restrições aos financiamentos imobiliários, afrouxaram as regras de licitação de terrenos e prometeram medidas para tornar mais fácil para as incorporadoras saldarem suas dívidas, o que poderá permitir a elas lançarem mais rapidamente novos projetos.
As autoridades reguladoras chinesas também tornaram mais fácil para as incorporadoras emitir bônus no mercado interbancário local para que possam obter novos recursos
Mesmo assim, alguns analistas alertam que o corte recente na taxa de compulsório bancário e qualquer outra flexibilização potencial para apoiar pequenas empresas em dificuldades poderão inflar bolhas de ativos como os imóveis novamente.
“As autoridades econômicas de Pequim possuem muitas ferramentas, mas bem menos espaço de manobras à frente”, disse Wei Yao, economista-chefe do Société Générale para a China. Como resultado, ela afirmou que “o banco central da China não deverá afrouxar nem apertar muito a política monetária nos próximos anos”.