Pequim busca blindar seus ativos de risco de sanções dos EUA

As autoridades reguladoras chinesas realizaram uma reunião de emergência com bancos locais e estrangeiros para discutir como eles poderão proteger os ativos do país no exterior de sanções lideradas pelos EUA parecidas com as impostas contra a Rússia por sua invasão da Ucrânia, segundo pessoas a par da discussão.

As autoridades temem que as mesmas medidas possam ser adotadas contra Pequim no caso de um conflito militar regional ou outra crise. O governo do presidente Xi Jinping vem mantendo um apoio firme a Vladimir Putin na crise, mas bancos e companhias chinesas continuam cautelosos em realizar qualquer negócio com entidades russas que possam desencadear sanções dos EUA.

Segundo as fontes, a conferência interna, realizada em 22 de abril, incluiu autoridades do banco central da China e do Ministério das Finanças, além de executivos de dezenas de bancos locais e internacionais como o HSBC. O Ministério das Finanças disse na reunião que todos os bancos estrangeiros e locais que operam na China estavam representados. 

As fontes disseram que a reunião começou com observações de um funcionário de alto escalão do Ministério das Finanças, que disse que o governo Xi entrou em alerta pela capacidade dos EUA e seus aliados de congelar ativos em dólares do banco central russo.

Autoridades e participantes não mencionaram cenários, mas um possível gatilho para essas sanções seria a invasão de Taiwan, que a China reivindica como seu território e já ameaçou invadir se a ilha se recusar a se submeter ao seu controle indefinidamente. 

“Se a China atacar Taiwan, a separação das economias chinesa e ocidental será muito mais severa do que a da Rússia, porque a pegada econômica da China está em todas as partes do mundo”, disse uma fonte a par da reunião. O HSBC não respondeu a um pedido para comentários. 

Andrew Collier, diretor-gerente da Orient Capital Research de Hong Kong, disse que o governo chinês tem razão de estar preocupado “porque tem muito poucas alternativas e as consequências [das sanções financeiras dos EUA] seriam desastrosas”. 

Autoridades reguladoras de alto escalão, como Yi Huiman, presidente da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China, e Xiao Gang, que comandou a mesma entidade de 2013 a 2016, perguntaram aos banqueiros presentes o que poderia ser feito para proteger os ativos do país no exterior, especialmente suas reservas internacionais de US$ 3,2 trilhões. 

As enormes participações da China em ativos em dólares vão de mais de US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA, a prédios de escritórios em Nova York. A estatal Dajia Insurance Group, por exemplo, é dona do hotel Waldorf Astoria de Nova York. 

“Ninguém no local conseguiu pensar em uma boa solução para o problema”, disse outra fonte a par da reunião. “O sistema bancário da China não está preparado para um congelamento de seus ativos em dólar ou a exclusão do sistema de pagamentos Swift, como os EUA fizeram com a Rússia.” 

Alguns bancos sugeriram que o BC chinês poderia exigir dos exportadores que trocassem suas reservas cambiais para yuans, para elevar suas posições internas em dólares. Hoje, os exportadores podem reter uma parte de seus ganhos em moedas estrangeiras para uso futuro. 

Outros sugeriram um corte “significativo” na cota de US$ 50 mil que os cidadãos chineses podem comprar todos os anos para viagens ao exterior, além de educação e outras compras fora do país. 

Quando uma autoridade perguntou aos banqueiros chineses se eles poderiam se diversificar para mais ativos lastreados em ienes ou euros, eles responderam que a ideia não seria prática.

Mas alguns bancos presentes expressaram dúvida de que Washington possa se dar ao luxo de cortar os laços econômicos com a China, dada a posição do país de segunda maior economia do mundo, suas enormes posições em ativos em dólares e as relações comerciais próximas com os EUA. 

“Seria difícil para os EUA impor sanções maciças contra a China”, concordou Collier. “É como a destruição mútua assegurada em uma guerra nuclear.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/05/02/pequim-busca-blindar-seus-ativos-de-risco-de-sancoes-dos-eua.ghtml

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