Parece só um bar em Tóquio, mas é uma “incubadora do futuro”

O bar é no centro de Tóquio, a bebida é boa e a freguesia é formada por jovens de vinte e poucos anos. A diferença com qualquer outro ambiente como esse, em qualquer canto do mundo, é o que esses jovens estão fazendo ali: procurando gente interessada em abrir empresas, de preferência de TI, tecnologia da informação.
Toda quarta-feira o bar vira uma típica sala de encontro para startups, empresas iniciantes, em busca de financiamento ou, apenas, de gente interessada em idéias novas. A questão é que eles representam o melhor futuro possível para o Japão, como escreveu a matéria do The New York Times assinada por Hiroko Tabuchi. Enquanto gigantes de tecnologia do Japão continuam “bem mal das pernas”, essa nova geração de empreendedores inicia promissores novos negócios.
Boa parte dos “fregueses” são engenheiros, estudaram nos EUA, tinham bons empregos em grandes multinacionais e todos têm o mesmo discurso: “neste momento, existe muita incerteza no Japão”. Desde o final de 2010 os encontros se repetem e se formaram várias incubadoras de novos negócios no “bar”. O laboratório fornece recursos iniciais, espaço para escritório e orientação. O “bar” atrai financiadores igualmente jovens, inclusive do Vale do Silício, da Califórnia.
O motivo da iniciativa é bem simples: com a economia em crise e com o aumento da população idosa, o Japão caiu para a 25ª colocação no ranking de inovação global da ONU, perdendo pela primeira vez o espaço que sempre ostentou entre os 20 primeiros, desde que esse ranking começou a ser feito.
Há um consenso no Japão que a inovação não virá mais das grandes empresas eletrônicas, que estão “engessadas” em velhas estruturas. Elas continuam produzindo de TV a smartphones, mas estão prejudicadas tanto pela valorização do iene como por sua própria estrutura. E perdem feio para a concorrência mais ágil e mais barata. Bom exemplo dessa falta de inovação foi o mais recente lançamento de uma enorme empresa eletrônica: uma máquina de lavar roupa que pode ser movida a distância por smartphone, mas que custa nada menos que US$ 4,5 mil.
A sociedade japonesa, alerta o N Y Times, continua gostando da extrema lealdade vitalícia à empresa e crítica a disposição de assumir riscos e o fracasso. O governo, controlado por partidos tradicionais, criou uma rede complexa de “regulamentações” para conter os que “acabam de ingressar no mercado de trabalho”. Foi essa regulamentação que aumentou muito a “freguesia” das reuniões de quarta-feira no bar no centro de Tóquio. Histórias de sucesso já aparecem nas conversas, como as de fracasso. Mas, as microempresas não param de nascer. O bar está cada vez mais cheio. O Estadão traduziu essa matéria, publicada na edição de 8 de outubro na pg B20.

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