Países liberam reservas, mas petróleo volta a subir

Os EUA e cinco outros países, incluindo a China, anunciaram ontem que vão liberar parte de suas reservas estratégicas nacionais de petróleo numa tentativa de baixar os preços da gasolina, que têm pressionado a inflação e desagradado consumidores. Mas a reação inicial dos mercados de petróleo foi de alta após o anúncio, refletindo, em parte, uma percepção de que o volume envolvido é baixo. 

“Para os motoristas que estão se perguntando se os preços da gasolina vão cair… a realidade é que isso pode nem acontecer ou acontecerá com uma defasagem significativa”, disse Bjornar Tonhaugen, da consultoria Rystad Energy. 

A medida já era esperada havia semanas, com a Casa Branca preocupada em como lidar com a alta dos preços da gasolina, dos alimentos e de outros bens de consumo que passaram a minar as perspectivas para a agenda de Biden. 

“Isso é um problema. Não só para os EUA, mas em todo o mundo”, disse Biden sobre os altos preços da gasolina ontem. “Estamos tomando uma atitude”, acrescentou. 

Biden disse que a oferta adicional levará a preços mais baixos, mas analistas observaram que o volume a ser liberado pelos EUA não é grande o suficiente para cobrir o aumento da demanda e levar a quedas de preços na bomba. 

A decisão dos EUA de liberarem 50 milhões de barris de sua reserva estratégica nas próximas semanas ocorre diante da resistência da Organização de Países Exportadores de Petróleo e países aliados (Opep+) de elevar mais rápido a produção para conter a alta dos preços internacionais. 

A Casa Branca informou que os outros países que participarão da iniciativa são China, Índia, Japão, Coreia do Sul e o Reino Unido – um grupo que inclui os quatro maiores países consumidores de petróleo do mundo. Essa iniciativa coordenada de liberação de reservas é inédita. 

Mas China e Coreia do Sul não fizeram anúncios confirmando sua participação, nem sua representação em Washington respondeu aos pedidos de comentários. 

Um porta-voz do governo japonês em Washington disse que o Japão fará um anúncio oficial hoje. O país deve anunciar a primeira liberação de suas reservas estratégicas, cerca de 4,2 milhões de barris, ou o equivalente a um a dois dias do consumo diário do país, segundo informações do site Nikkei. 

A Índia disse que vai liberar cinco milhões de barris de petróleo – um pouco mais do que o consumo de um dia – de sua reserva estratégica de cerca de 38 milhões de barris. Um porta-voz do Reino Unido disse que o país liberará o equivalente a 1,5 milhão de barris de petróleo, mas que exigirá só o cumprimento voluntário e não obrigatório das empresas privadas. 

No total, os seis países devem colocar cerca de 65 milhões a 70 milhões de barris de estoques estratégicos nacionais nos mercados mundiais, segundo estimativa da RBC Capital Markets. Mas esse número representa pouco mais da metade do consumo diário mundial, que o Departamento de Energia dos EUA estima que ultrapassará os 100 milhões de barris neste trimestre. Se confirmado, isso colocará o consumo mundial quase 5% acima do que era há um ano. 

Com esse cenário, os preços do petróleo fecharam em alta ontem. Em Nova York, o tipo WTI subiu 2,3% e fechou a US$ 78,50 por barril. Em Londres, o Brent avançou 3,3%, para US$ 82,31 por barril. 

Para analistas da ClearView Energy Partners, “a liberação [das reservas] parece mais um paliativo”. “Vemos a medida como um claro esforço do governo Biden para enviar um sinal aos motoristas americanos [e eleitores] de que a Casa Branca está reagindo aos problemas econômicos.” 

A elevação dos preços da gasolina nos EUA se tornou um problema econômico e político para Biden e os democratas. Uma pesquisa da rede CBS News, divulgada no domingo, mostrou que o índice de aprovação de Biden caiu para 44%, o menor desde que ele assumiu. Só 30% dos entrevistados disseram que a economia está em uma boa situação, contra 45% em julho. 

Enquanto 53% dos americanos aprovam a resposta de Biden à covid-19, 39% aprovam sua gestão econômica e 33% a forma como lida com a inflação, diz a pesquisa. 

A última vez que houve uma ação coordenada foi em 2011, quando os EUA e 27 outros países liberaram 60 milhões de barris para compensar a paralisação da produção da Líbia, em guerra civil. 

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https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/11/24/paises-liberam-reservas-mas-petroleo-volta-a-subir.ghtml

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