Pacote de Biden busca também combater a desigualdade nos EUA

O pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão de Joe Biden, que deve receber hoje o sinal verde final do Congresso, tem como principal objetivo acelerar a recuperação dos EUA após a pandemia da covid-19. Mas também tem um objetivo secundário: tornar a maior economia do mundo mais equitativa. 

Apesar das mudanças sofridas no Senado terem limitado benefícios defendidos pela ala esquerdista do partido, líderes democratas acreditam que o pacote será aprovado sem dificuldades na Câmara dos Deputados, onde têm uma estreita maioria. 

O pacote prevê uma gigantesca nova injeção de gastos públicos dos EUA, com transferências diretas em grande escala para famílias de baixa e média renda e marca a primeira tentativa da Casa Branca de reduzir a pobreza e a desigualdade – problemas que foram intensificados pela pandemia. 

Os esforços para criar não apenas uma economia mais forte, mas também mais equilibrada, estão no cerne da agenda de Biden desde sua campanha em 2020, quando criticou a desigual “recuperação em K” (na qual segmentos da economia se recuperam em ritmos diferentes), que se desenrolava sob o governo de Donald Trump. 

Mesmo antes disso, desde a crise financeira global, enfrentar a disparidade econômica era uma meta não cumprida de políticos democratas e economistas de esquerda. 

“Este pacote é idealizado para enfrentar os problemas no aqui e agora, para que, enquanto avançamos rumo à recuperação, não tenhamos uma disparidade tão contrastante”, disse Heather Boushey, integrante do conselho de assessores econômicos da Casa Branca. “À medida que a pandemia foi avançando em nossa economia e nossa sociedade, muitos no topo ficaram bem […] já para aquelas pessoas na base, o que se vê são necessidades e problemas intensos reais.” 

As principais provisões do pacote são voltadas a dar auxílio imediato de amplos segmentos da sociedade americana de renda mais baixa, para que absorvam o choque da crise. A ajuda para empresas e mercados é mais limitada. 

Os pagamentos diretos de US$ 1,4 mil por pessoa estão disponíveis para os americanos que ganham menos de US$ 75 mil por ano. Nenhum dinheiro irá para o segmento do 1% mais rico. 

Um aumento na dedução tributária por filho deverá reduzir em 50% o número de crianças na pobreza. Um complemento emergencial de US$ 300 por semana ao seguro-desemprego será prorrogado até setembro. Um financiamento adicional para a reabertura de escolas e a aplicação de vacinas deverá ser especialmente benéfico para bairros de baixa renda. Até o senador esquerdista Bernie Sanders, que disputou com Biden a indicação presidencial democrata em 2020, comemorou o pacote. 

“[Este] é o projeto de lei mais significativo a beneficiar famílias trabalhadoras na história moderna deste país”, disse Sanders, após votar a favor do pacote no sábado. “O povo americano está sofrendo, e este plano avança muito no enfrentamento às múltiplas crises com as quais nos deparamos.” 

Mas o impacto do pacote de estímulos de Biden será temporário, já que seus principais pontos se extinguem gradualmente ao longo do ano e em 2022. Por isso, parlamentares e economistas dizem que será preciso muito mais para realmente tornar a economia dos EUA menos desigual. 

Durante sua campanha, Biden prometeu uma série de passos para reduzir a desigualdade econômica, incluindo elevar os impostos sobre as empresas e os mais ricos. Mas não está claro até que ponto a Casa Branca levará isso adiante em seu próximo pacote, que deverá ter foco nos investimentos em infraestrutura. A plataforma de campanha de Biden também prometia investimentos em massa em educação e creches, assim como em comunidades de baixa renda, cujo propósito também é reduzir a desigualdade estrutural, incluindo a disparidade racial. 

“[O pacote de estímulo] consiste, em grande medida, em garantir que não acabaremos tendo maior desigualdade em razão da covid”, disse Claudia Sahm, que foi economista do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). “Precisamos voltar para fevereiro de 2020 e, então, poderemos avançar. E, você sabe, construir pontes para um lugar melhor, com menos desigualdade, uma rede de segurança [social] mais sólida e mais oportunidades para todos os americanos, particularmente as crianças. Esse é o próximo pacote”, disse. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/03/09/pacote-de-biden-busca-tambem-combater-a-desigualdade-nos-eua.ghtml

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