Pacote alemão de € 130 bi deve ajudar a UE, mas reforça poder de Berlim

Governo alemão aprovou um pacote de medidas de estímulo ao consumo que deve custar € 130 bilhões neste ano. Isso deve estimular a economia de todo o bloco europeu, mas parceiros temem que ajude desproporcionalmente as empresas alemãs 

Sob pressão há anos dos parceiros de União Europeia para gastar mais, a Alemanha finalmente lançou um grande pacote de estímulo, financiado por endividamento. Mas o redescoberto amor de Berlim pelo esbanjamento causa novas apreensões nos vizinhos. 

Na noite de quarta-feira, a coalizão de governo da premiê Angela Merkel apresentou um plano de estímulo no valor de € 130 bilhões para acelerar a recuperação da crise causada pela pandemia. 

As medidas, que se seguem a um plano de resgate de € 750 bilhões acertado em março, incluem um corte temporário no imposto sobre valor agregado (IVA), a distribuição de dinheiro para famílias, mais recursos para pequenas empresas e mais incentivos para a compra de carros elétricos. 

O pacote de gastos adicionais e corte de impostos equivale a aproximadamente 4% do PIB alemão de 2020. Junto com a ajuda à liquidez e as garantias de empréstimos, a resposta de Berlim ao coronavírus corresponde a mais de 30% do PIB. 

A expectativa é que essas medidas elevem a relação dívida/PIB do país de cerca de 60%, em 2019, para ao menos 75% em 2020, um salto no endividamento que não se vê desde o maciço pacote de estímulos adotado durante a crise financeira, há mais de uma década. “Isso mostra mais uma vez que a Alemanha está preparada para gastar e é capaz de fazê-lo quando isso é importante”, disse Holger Schmieding, economista do Berenberg. 

Como as medidas vão muito além de qualquer outro programa de emergência dos demais países da zona do euro, isso gera temores de que possa aumentar os desequilíbrios na UE e levar a distorções no mercado único do bloco. 

A Alemanha sozinha responde por pouco menos da metade do auxílio estatal de emergência contra o coronavírus aprovado pela Comissão Europeia, órgão executivo da UE, o que gera preocupação de que os países com mais recursos possam obter mais vantagens. 

“Há muitas tensões sobre a distribuição de auxílios estatais pelos países da UE, em especial pela Alemanha”, disse recentemente um diplomata europeu, após o plano de resgate financeiro de € 9 bilhões para a principal companhia aérea alemã, a Lufthansa. 

Na Alemanha, essa reação ao pacote provoca confusão. “As críticas são um tanto paradoxais e, às vezes, até hipócritas”, disse uma autoridade do governo alemão. 

“Antes da crise do coronavírus, éramos os alemães austeros que sempre gastavam pouco. Agora nós somos os alemães ‘gastadores’ que buscam vantagem competitiva com seus grandes recursos.” 

Autoridades alemãs dizem ainda que outros países europeus se beneficiarão do pacote de estímulo de Berlim, pois uma demanda interna reforçada absorverá mais importações de produtos franceses, italianos ou espanhóis. 

Além disso, a Alemanha apoia de forma geral os planos elevar a dívida conjunta da UE numa escala sem precedentes, talvez a até € 750 bilhões, e usar esse dinheiro para ajudar os países mais prejudicados pela pandemia. Isso incluiria o proposto Fundo Europeu de Recuperação, que ajudaria o setor privado a investir em empresas saudáveis, de forma a reequilibrar desequilíbrios que ocorram”, disse uma alta autoridade da UE. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/06/05/pacote-alemao-de-euro-130-bi-deve-ajudar-a-ue-mas-reforca-poder-de-berlim.ghtml

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