Lucca Ribas de Biaso – Aluno do Curso de Ciências Sociais e do Consumo ESPM – SP
Segundo O Globo, o novo Corona Vírus chegou ao Brasil no final de fevereiro início de março. A partir daí, várias restrições vêm sendo implantadas, desde a quarentena, o isolamento social e até mesmo o lockdown. Isolamento que causou uma mudança enorme em como consumimos muitas coisas, em especial podemos ver que o entretenimento de certo modo ficou restrito e bastante fragilizado. Sem podemos nos reunir em aglomerações, mais de 5 pessoas já é considerado uma aglomeração, o que é assustador, nosso entretenimento ficará por um bom tempo relegado a atividades que podemos realizar na segurança, muito mais que conforto, de nossas casas.
Como poderíamos esperar manter os grandes encontros que ocorrem em shows? Diversos festivais foram adiados na esperança de uma volta ainda nesse ano, e muitos foram cancelados com a desculpa de falta de novas datas no segundo semestre, mas possivelmente por não sabermos como será o segundo semestre desse diferente 2020. Os shows sertanejos, como não podiam seguir de forma diferente, foram todos cancelados também, devido a Covid-19. Mas um fenômeno que nos parece ser o primeiro dessa nova realidade acontece no dia 28/03/2020, um sábado. Nesse dia , o cantor e compositor de música sertaneja, Nivaldo Batista Lima, mais conhecido popularmente como Gusttavo Lima, fez uma live sertaneja em sua casa, a qual teve mais de cinco horas de duração e com quase 100 músicas tocadas durante o evento online que atraiu mais de 700 mil acessos simultâneos, ou seja, mais de 700 mil pessoas assistiram a live. Assistindo juntas, família de cinco pessoas na sala, um casal assistindo no notebook enquanto tomam um vinho ou até mesmo uma família com mais de dez pessoas que se reuniram para um jantar, na tentativa de tornar um momento de isolamento social em um momento de interação social digital.
Mas como surgiu a ideia da live?
O cantor teve a ideia de fazer a live assim que começou a quarentena. Seu canal no YouTube tinha acabado de atingir a marca dos 10 milhões de inscritos, e seus fãs estavam realizando vários pedidos para que uma live fosse feita para comemorar essa importante marca no número de inscritos. E, claro, para levar algum entretenimento para as pessoas que estavam confinadas em casa. O cantor resolveu atender ao clamor de seus fãs e realizou a famosa live em sua casa. Mas não como uma ação “amadora”. Uma
enorme estrutura, que contava com sete câmeras fixas e mais um drone, foi montada para a realização dessa transmissão. Tudo planejado e feito em apenas três dias.
O produtor da live em si não foi cantor Gusttavo Lima, e sim Anselmo Troncoso, diretor e produtor de vídeo de grandes nomes do sertanejo. Um fato interessante, é que o produtor disponibilizou todo o equipamento, equipe e preparou tudo para a transmissão, sem cobrar 1 centavo se quer.
A live
Mesmo sendo a primeira live desse momento diferente em que vivemos, podemos entender que sua repercussão mais avassaladora do que o esperado. Mais de 700 mil espectadores simultâneos no YouTube e mais de 160 mil pelo Instagram, passando até a cantora Beyonce que conseguiu “apenas” 458 mil visualizações simultâneas durante seu show em Coachella no longínquo ano de 2018. O show não foi apenas um evento de entretenimento. Ele se transformou em uma ação social ao arrecadar mais de R$100 mil em doações, mais de 20 toneladas de alimentos e um grande estoque de álcool em gel que foram direcionados para o auxílio de diversas instituições pelo Brasil.
O Gusttavo foi o primeiro com a ideia da promoção do entretenimento a distância e a solidariedade através das lives, que acabou dando um ponta pé inicial.
O mercado de lives só cresce com a continuidade da pandemia e de nosso isolamento social. Temos livesde todos os estilos musicais, ainda não vimos nenhuma de punk rock, mas temos certeza que já deve existir. Outras lives tem ganhado espaço nesse novo e concorrido mercado, como a da cantora Ivete Sangalo no dia 10 de maio que arrecadou cerca de 400 mil reais e não se limitou a ficar na internet e foi transmitida simultaneamente em um canal de TV a cabo.
Existem até discussões sobre como esse modelo de entretenimento pode se manter depois que voltarmos ao “normal”, se o YouTube tem condições de se manter como canal para as lives ou se uma nova plataforma surgirá para dar mais controle e receita para os artistas, mas esse é um assunto para outro texto.
Lucca Ribas de Biaso – 3° semestre
CI-Lab
(Laboratório de Consumer Insights do Curso de Ciências Sociais e do Consumo, Espm)