Os líderes da Otan concordaram nesta quarta-feira, 25, em aumentar a meta de gastos em defesa para 5% do PIB de cada país no encerramento da cúpula da aliança, em Haia, na Holanda. A aprovação da meta é o resultado da pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exigiu que os países europeus e o Canadá investissem mais para impulsionar a aliança.
Em um breve comunicado de cinco parágrafos marcando o fim da cúpula, os países membros da Otan disseram que a nova meta de gastos se deve à necessidade de defesa imposta pela ameaça de longo prazo representada pela Rússia, além da ameaça persistente do terrorismo.
Ainda que a Otan tenha renovado a promessa de fornecer apoio à Ucrânia, a declaração não mencionou a perspectiva de adesão de Kiev à aliança.
O resultado da reunião de líderes agradou Trump. “Foi uma cúpula tremenda, e eu gostei muito”, disse o presidente americano.
Apesar da pressão de Trump, os principais países europeus, como Reino Unido, Alemanha e França, já debatem a meses a necessidade de aumentar os gastos com Defesa, temendo um cenário em que EUA abandonasse a aliança atlântica.
Pressão do ‘papai’ Trump
A cúpula da aliança militar foi arquitetada para agradar Trump. O principal objetivo era a aprovação da nova meta de gastos e o evento foi reduzido em número de reuniões e dias.
“O processo de formatação desta cúpula foi bem diferente das últimas e os americanos ressaltaram que eles só queriam falar sobre a meta dos 5%”, disse Sara Moller, diretora de assuntos internacionais no programa de Estudos de Segurança da Universidade de Georgetown, em Washington. “Os organizadores queriam uma cúpula calma, sem surpresas e sem manchetes. Por isso todo o evento foi encurtado, na esperança de que pudesse ser realizado de forma rápida e sem crises”.
Para a analista, a presença de Trump novamente na Casa Branca deve fazer com que a Otan questione se uma cúpula anual é necessária. “A cúpula é basicamente uma oportunidade para uma foto dos líderes e para eles conversarem e emitirem o comunicado. Com a volta do governo Trump eu acredito que os políticos vão questionar se a cúpula precisa acontecer todos os anos. Durante a Guerra Fria as reuniões não eram anuais”.
O presidente americano viajou a Haia para receber o crédito pela nova meta de 5%. Em seu primeiro mandato, o republicano balançou o status quo da aliança e ameaçou retirar Washington da Otan se os outros membros não gastassem mais com defesa.
Durante a campanha presidencial de 2024, Trump elevou o tom e disse que poderia deixar a Rússia fazer “o que quiser” com qualquer país da Otan que não aumentasse os seus gastos em defesa.
Quando Trump sugeriu a meta de 5%, poucos analistas acreditavam que a meta era realista, dado que nove dos 32 países membros da Otan ainda não haviam atingido o compromisso de gastos de 2% definido em 2014.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, reforçou durante a cúpula que o republicano foi o responsável pela nova meta. Na terça-feira, 24, Trump compartilhou na rede social Truth Social uma mensagem de Rutte no aplicativo Signal em que ele elogia Trump por ter pressionado os europeus.
Os dois líderes tiveram um diálogo engraçado quando Trump respondeu uma pergunta sobre o cessar-fogo entre Irã e Israel.
“Eles tiveram uma briga feia, como duas crianças no pátio da escola. Eles brigam muito, você não consegue pará-los. Deixe-os brigar por uns dois, três minutos, depois fica mais fácil pará-los”, disse Trump em uma entrevista coletiva ao lado de Rutte.
O secretário-geral da Otan levou a analogia das crianças um pouco mais longe: “Papai às vezes precisa usar uma linguagem forte.”
O republicano pareceu não se importar com o uso do termo por Rutte, que se tornou uma gíria que representa poder e controle em relacionamentos. “Acho que ele gosta de mim. ‘Papai, você é meu papai’”, imitou Trump com um sorriso, provocando risos da imprensa internacional e do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. “Ele fez isso com muito carinho.”
Mas Rutte não conseguiu com que todos os aliados se curvassem à exigência de Trump. A Espanha não assinou o memorando de comprometimento para a nova meta.
Foi por isso que o comunicado emitido pela Otan diz que “aliados” concordaram com o objetivo de 5%, mas não “todos” os aliados. O primeiro-ministro Pedro Sánchez alegou que Madri pode atingir suas metas de capacidade militar com gastos de 2,1% do PIB em defesa e que se comprometer com mais do que isso significaria cortes drásticos em gastos sociais, como pensões estatais, ou aumento de impostos.
Mesmo assim, o país europeu não vetou a aprovação da nova meta. “Respeitamos plenamente o desejo legítimo de outros países de aumentar seus investimentos em defesa, mas não faremos isso”, disse Sánchez, em um discurso televisivo antes da cúpula.
A situação não agradou Trump, que prometeu punir Madri. “A Espanha é terrível. Estamos negociando com a Espanha um acordo comercial; vamos fazer com que eles paguem o dobro. Estou falando sério sobre isso.”
A flexibilidade do comunicado encorajou outros países que têm lutado para correr atrás da meta para Otan.
“Não há tratamentos especiais para nenhum Estado membro — é o mesmo texto, e se a interpretação da Espanha está correta, qualquer um pode interpretar o texto da mesma forma”, disse o primeiro-ministro da Bélgica, Bart De Wever. Ele não descartou gastar 5%, acrescentando que “planejamos fazer mais”, mas ele disse que entendia os problemas orçamentários da Espanha.
Atualmente, a Bélgica gasta 1,3% de seu PIB com defesa, valor menor do que a antiga meta de 2%, acordada na cúpula de 2014 no País de Gales.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Luc Frieden, também ficou muito aquém de se comprometer com a meta de 5%. O pequeno país europeu gasta cerca de 1,29% do PIB com defesa, de acordo com os dados mais recentes.