Opep e aliados frustram EUA e EU e corte de produção encarece petróleo e gás

Uma coalizão de nações produtoras de petróleo, incluindo a Rússia, anunciou nesta quarta-feira, 5, que reduzirá a produção de petróleo em 2 milhões de barris por dia, uma medida que frustrou os Estados Unidos e a União Europeia e que poderá aumentar os preços do combustível em todo o mundo, piorar o risco de uma recessão global e reforçar a guerra da Rússia na Ucrânia. A Casa Branca acusou a Opep de se alinhar com a Rússia.

A decisão foi anunciada pouco depois de União Europeia chegar a um acordo para um novo pacote de sanções contra a Rússia, visando principalmente limitar a receita do petróleo russo, em resposta à anexação de regiões da Ucrânia.

A medida da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) provocou uma reação veemente de funcionários da Casa Branca que sugeriram trabalhar com o Congresso para reduzir o poder do consórcio produtor de petróleo. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse a repórteres no Air Force One que estava “claro” que a Opep estava “alinhando-se com a Rússia”.

“O presidente (Joe Biden) está desapontado com a decisão míope da Opep+ de cortar as cotas de produção enquanto a economia global está lidando com o impacto negativo contínuo da invasão da Ucrânia por Putin”, disseram em comunicado o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, e o diretor do Conselho Econômico Nacional, Brian Deese.

A coalizão Opep+, liderada pela gigante do petróleo bruto Arábia Saudita, disse que o corte na produção entrará em vigor em novembro. Esta é a primeira vez que o grupo corta as metas de produção de petróleo desde o início da pandemia de covid-19, em uma reunião presencial pela primeira vez desde 2020 em Viena.

A queda dos preços do petróleo foi impulsionada por um azedamento da economia global, forçando a demanda a cair. O corte de produção visa elevar os preços novamente.

O movimento desta quarta-feira foi mais agressivo do que a maioria dos analistas esperava até alguns dias atrás e reflete o desejo das nações produtoras de petróleo de reagir à recente queda nos preços globais.

Os preços mais altos da energia podem ajudar a Rússia a financiar sua guerra contra a Ucrânia, uma medida que os Estados Unidos tentavam evitar. Os preços mais altos da energia também podem enfraquecer a determinação de outros países que apoiaram a Ucrânia na tentativa de repelir a Rússia após a invasão de fevereiro.

Na Europa, os países-membro do bloco devem submeter a um processo final de aprovação o novo pacote de sanções contra a Rússia na quinta-feira, 6. Os detalhes das novas sanções não foram divulgados, mas os embaixadores da UE que discutiram as possíveis medidas nos últimos dias se concentraram em impor um teto ao preço do petróleo russo.

A Rússia depende das vendas de gás e petróleo para grande parte de seu orçamento e pressionou pelo corte de produção, o que permitirá a Moscou vender petróleo a preços mais altos no mercado global, gerando mais receita para sua guerra e mobilização de tropas.

Efeito nos EUA

A decisão pelo corte foi tomada apesar do lobby agressivo do governo Biden para que a Opep continue a produção nos níveis atuais ou superiores – pontuado pela visita de Biden à Arábia Saudita em julho.

No início de seu governo, Biden prometeu tornar a Arábia Saudita um pária internacional, mas recuou e voltou a tentar usar todos os canais disponíveis para conter os aumentos no preço do gás que prejudicaram seu índice de aprovação doméstica.

O corte significativo também pode ter consequências políticas consideráveis nos EUA, onde as eleições de meio de mandato serão realizadas em pouco mais de um mês.

A queda dos preços da gasolina nos últimos meses no país desempenhou um grande papel na elevação da sorte política dos democratas, que enfrentam uma temporada eleitoral difícil.

Ela também ajudou a elevar o índice de aprovação de Biden e deu ao partido um vislumbre de esperança de neutralizar uma ‘onda republicana’ amplamente antecipada.

https://www.estadao.com.br/internacional/opep-e-aliados-decidem-reduzir-producao-de-petroleo-em-2-milhoes-de-barris-por-dia/

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