A primeira semana dos Jogos Olímpicos já teve impacto positivo sobre o humor e a confiança dos brasileiros, de acordo com especialistas. O evento pode ainda traduzir-se em benefícios econômicos, ao menos no curto prazo, como mostrou material do Valor Econômico, assinada por Ligia Guimarães, publicada em 12/08.
Gesner Oliveira, sócio-diretor da GO Associados, estima um total de R$ 2,4 bilhões em gastos adicionais vindos dos espectadores da Olimpíada, montante que pode alavancar mais de R$ 8 bilhões em efeitos sobre a renda. “Não é pouco e eu diria que é um impacto subestimado, porque não leva em consideração as obras de infraestrutura que, para o Rio de, foram impressionantes”, afirma Oliveira.
A repercussão positiva em torno da cerimônia de abertura no Maracanã, no dia 5, reverteu o clima negativo que predominava sobre o evento até então, e já aparece com força nos dados de agosto do Índice de Impacto e Perspectivas Brasil (IP Brasil) da .MAP Mapeamento, Análise e Perspectiva.
“A abertura foi muito bem recebida tanto pelas redes sociais quanto pela imprensa internacional”, afirma Cláudio Bruno, diretor de conteúdo da.MAP, que diz que o sucesso da cerimônia também deixou em segundo plano a atenção em torno do noticiário da crise política. O IP, criado em julho de 2015, é feito a partir da análise semanal de 900 mil a 1,2 milhão de posts nas redes sociais e 250 conteúdos de manifestações de formadores de opinião na imprensa.
Na primeira semana de agosto, sob impacto da cerimônia de abertura, no dia 5, o IP marcou 61%, o maior resultado da série histórica e um incremento expressivo em relação aos 49% marcados no fechamento de julho, época em que a insatisfação da equipe australiana com as instalações da Vila Olímpica dominava o noticiário.
Nos dados atualizados até o dia 10, afirma Bruno, o IP dos jogos é 98% positivo. “Tanto os formadores de opinião, na imprensa, quanto o público em geral, nas redes sociais, estão apoiando os Jogos”, afirma. As mais celebradas são as atletas Rafaela Silva, do judô, e Marta, do futebol. A rejeição fica concentrada no desempenho da delegação brasileira; a seleção masculina de futebol é o principal alvo de críticas. “Mas o descontentamento fica no campo esportivo, não avançando para questionamentos às políticas públicas de incentivo ao esporte”, diz o especialista.
Para Bruno, a incógnita a partir de agora é ver se o incipiente bom ânimo, novidade em meio a um longo período de recessão e noticiário político pesado, é suficiente para se sobrepor aos momentos finais do processo de impeachment de Dilma Rousseff, que pode ser concluído ainda em agosto. “Provavelmente até o fim da Olimpíada, o bom humor vai continuar.”
Na estimativa do banco Goldman Sachs, o investimento relacionado à Olimpíada se divide em três segmentos principais: R$ 8 bilhões em custo operacional, financiado pelo setor privado. R$ 7 bilhões em estrutura esportiva e outros projetos que não existiriam se o Rio não fosse o anfitrião dos Jogos, 60% bancados pelo setor privado. E outros R$ 25 bilhões em projetos que anteciparam ou elevaram os gastos federais, estaduais e municipais em infraestrutura e programas de políticas públicas, como a expansão de linhas de metrô.
“A meta é elevar o número de pessoas beneficiadas pelos Jogos”, diz relatório divulgado pelo economista Alberto Ramos, que diz que muitos dos investimentos feitos foram financiados por parcerias público-privadas (PPPs). De maneira geral, o relatório afirma que o investimento relacionado à Olimpíada é pequeno demais para gerar dividendos ou impulso econômico relevante.
Oliveira, da GO, diz que as obras de infraestrutura foram “impressionantes” para o Rio, “comparável à [proporcionada pela Olimpíada] em Barcelona”, e estima que metade dos investimentos tenha sido bancada pelo setor privado. “Não é todo dia que um país recebe 3 milhões de pessoas. Isso tem valor econômico.”