O ouro de Londres vale mais que o de Pequim?

A crise econômica chegou às Olimpíadas. Nada a ver com os desempenhos dos atletas. Recordes continuam batidos, cada vez mais. O homem mais rápido do mundo é mais rápido em 2012 do que foi em 2008. Melhores condições de treinamento, com mais recursos, inclusive financeiros, explicam isto. Não faltam patrocinadores, nem anunciantes. Mas a crise econômica está bem visível nas Olimpíadas, exatamente onde os jogos são mais visíveis: nas suas medalhas. As de ouro, especialmente. As que todos querem.
O motivo é bem simples: são 2,3 mil medalhas e Londres optou por entregar as medalhas mais pesadas da história, 400 gramas cada uma, o dobro do tamanho das distribuídas em Pequim. Essa decisão foi tomada bem antes do agravamento da crise econômica ao longo de 2009, pelos problemas dos bancos norte-americanos com continuidade nos dois anos seguintes pela crise na moeda comum, o euro.
A piora da crise, desde 2010, forçou investidores internacionais a abandonarem os títulos das dívidas de muitos países e se refugiarem no que lhes pareceu mais seguro, no ouro. Resultado, desde o começo do ano passado o preço do metal explodiu. E não para de subir. Na Olimpíada de Pequim, o grama de ouro custava US$ 800, na referência padrão da Bolsa de Nova York. Um mês antes dos Jogos de Londres valia US$ 1.890, na mesma referência.
A solução mais viável, já que não era possível voltar atrás no tamanho das medalhas, era diminuir a quantidade ouro em cada uma delas. Desde que respeitada regra básica do Comitê Olímpico Internacional: cada medalha terá o mínimo de 6 gramas de ouro. E daí, mesmo com simples 1,3% de ouro, de fato, no peso final de cada medalha mais cobiçada – 92% é prata e o resto cobre – , cada prova do melhor desempenho custou US$ 650, bem mais que o dobro do gasto em Pequim.
É verdade que as medalhas de prata custam bem menos, US$ 335 e as de bronze, bom, como mostrou a matéria do Estadão (05/08, pg E14), na verdade são 100% de cobre e custam menos do que “um sanduíche vendido nos Jogos”.
Sinal da crise? Provável. Talvez, os ouros de Londres mostrem outra contradição: planejar com antecipação é muito relevante, mas a rapidez da crise, algumas vezes, é mais forte do que qualquer planejamento.

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