Nos EUA, “desintoxicação digital” virou remédio

Os fregueses são conhecidos. Toda semana, grupos formados por profissionais do Vale do Silício ou de Wall Street, às vezes acadêmicos, ou gente de Hollywood, apenas pagam pelo privilégio de abandonar seus smartphones, laptops, PCs, tablets e passar alguns dias num hotel na Califórnia para uma “desintoxicação digital”. Sem telas, eles caminham, nadam, praticam yoga para restabelecer o equilíbrio na vida após terem ido longe demais nas horas de navegar, mandar mensagens, tuitar.
Alguns hotéis fizeram experiências criando pacotes para visitantes que querem ficar livres da tecnologia. O Lake Placid Lodge, por exemplo, nas montanhas de Adirondacks, em Nova York, exige que os hóspedes deixem aparelhos eletrônicos na recepção e os substituam por outras atividades. A primeira delas , culinária, mas pode ser pesca ou um livro, desde que em papel. Hotéis das redes Marriot e Renaissance, no México e no Caribe estabelecerem áreas chamadas de “Braincation Zones” espaços obrigatórios só de leitura ou jogo.
Em 2001, como mostrou matéria do Washington Post, assinada por Masuma Aluja, traduzida pelo Estadão em 15/11, pg B16, mais de 27% dos americanos estavam “conectados em altom grau” ou seja, estavam conectados à internet a partir de múltiplos locais e aparelhos . O dado é oficial do US Census Bureau.
Ironicamente, existem aplicativos que podem ser baixados para se desconectar. Um programa chamado Freedom bloqueia o acesso à internet no seu computador por até oito horas. Outro aplicativo, SelfControl, bloqueia websites específicos por até 24 horas, de uma íunica vez. O fundador do SelfControl, Steve Lambert, diz que o valor do seu aplicativo é que ele deixa os usuários conscientes do seu comportamento. Por exemplo, bloqueados cada vez que tentam entrar no Facebook , eles percebem como é frequente esse comportamento.
A consultoria Nielsen assegura que 60% dos americanos têm smartphones . Isto significa que eles têm a capacidade constante de acessar a internet, a referência básica de que podem estar sempre on line. O problema é que eles estão, de fato, sempre on line. Até chegarem aos hotéis para a “desintoxicação”.

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