Rubem Braga e Vinícius de Moraes

Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Vamos debochar dos supersticiosos. O treze traz azar? Então que eles expliquem o ano de 1913, que nos deu dois dos mais geniais artistas que o Brasil já produziu. Rubem Braga e Vinícius de Moraes. O velho Braga nasceu no despontar do ano e Vinícius quase no final. Uma moldura para um ano iluminado. Mas isso não importa, pois não foi o próprio poeta que escreveu que pela manhã anoitecia e à tarde amanhecia?
Dois artistas, dois homens de rara sensibilidade, dois namoradores, diplomatas e cidadãos do mundo. Vinícius era a entrega em pessoa, o poeta da paixão. Braga, sisudo até à alma, era uma rocha de racionalidade. Mas que se abria em flor em cada palavra de cada crônica que escrevia. Vinícius viajou o mundo todo, sobretudo em sua última década, quando, acompanhado de Toquinho, realizou mais de mil shows em vários países. E Braga viveu nas principais capitais do Brasil e em muitos lugares no exterior. Mas nunca deixaram de ver o Rio e o Cachoeiro do Itapemirim. E assim foram, a um só tempo, brasileiríssimos e universais.
Rubem Braga, como todos sabem, elevou a crônica ao nível da mais alta literatura já realizada nessa nossa Portuguesa Língua. Entre milhares de textos (o número não é exagero), é difícil escolher as melhores entre tantas obras-primas. Mas, se a escolha é necessária, remeto o leitor a um dos textos ritmicamente mais perfeitos da Língua, “O SINO DE OURO”.
Vinícius se dividiu entre a poesia, as letras de música popular e as interpretações. Preferências à parte, o letrista ganhou o mundo e projetou a internacionalização do Brasil. Sim. Nos anos 50, o Brasil era um dos países preferidos nos roteiros turísticos. O futebol, a bossa nova e a arquitetura de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer haviam alçado um país periférico à esfera do grande circuito internacional. Artistas americanos e europeus vinham se apresentar no Golden Room do Copacabana Palace, enquanto as canções de Vinícius, como “Garota de Ipanema”, eram executadas all over the world.
E a nossa música se renovou. Contra os dramalhões do tango, os cantores “de gogó” e as melodias cafonas, as letras de Vinícius (acompanhadas da música de Tom Jobim) diziam que o amor não era apenas dor de cotovelo, podia ser um sentimento lindo, vivido à tardinha, num barquinho, ou ao som de um violão vendo-se o Corcovado…
As crônicas do velho Braga, por sua vez, destinadas, originalmente, à leitura no jornal, não ganharam o mundo em termos de tradução. Mas estão aí, mais atuais do que nunca. Crônicas, poesia e música refinadíssimas. Ao alcance de nossas mãos, olhos, ouvidos e inteligência. Para serem consumidas agora, antes que morramos empanturrados de sertanojo universitário e livros psicografados, enquanto ouvimos na TV a voz do alter ego nacional, aquele pobre papagaio sufocado com o cheiro de tanta comilança no progama matinal!
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