A Olimpíada é um evento de superação humana que conta cada vez mais com a participação da tecnologia, tanto nos “supertrajes”, na preparação física e mental dos atletas, como em novidades para quem acompanha o evento em casa ou mesmo para quem está nos bastidores dos jogos – exoesqueletos ajudam a aliviar o trabalho de quem monta as provas de levantamento de peso, por exemplo.
Depois da polêmica dos “supermaiôs”, que levaram créditos nos recordes quebrados por nadadores como o americano Michael Phelps, nos jogos de Pequim em 2008, foi a vez dos “supercalçados” se adaptarem para garantir igualdade de condições entre corredores em Tóquio.
A tecnologia dos tênis Vaporfly, lançada pela Nike em 2017, trouxe como principal revolução uma placa de fibra de carbono em toda a sola do calçado, que ajuda a reduzir em até 4% a energia gasta pelos corredores, em maratonas e outras provas de corrida de longa distância, já que oferece uma propulsão mais rápida a cada passada do que em calçados anteriores.
A evolução na placa de carbono embutida em uma sola mais alta do que de costume foi seguida por fabricantes como Adidas, NewBalance e Puma e atraiu o olhar da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que regulamentou o formato dos calçados no último ano. Em Tóquio, a principal mudança está na regulamentação do limite de 4 centímetros para a altura da sola e o uso de apenas uma placa de carbono dentro do tênis.
Entre os atletas que estrearam os tênis Vaporfly está o maratonista queniano Eliud Kipchoge, medalha de ouro na prova de maratona da Olimpíada do Rio em 2016, e vencedor de nove maratonas mundiais. Ele chegou a testar um protótipo do Vaporfly com três placas de carbono na entresola na Maratona de Viena, na Áustria, em 2019.
Brasileiros interessados nos novos modelos da Nike devem desembolsar entre R$ 1,6 mil e R$ 1,8 mil por um par equivalente ao modelo olímpico.
O carbono também estreia na ponta do solado de chuteiras da Adidas, que se tornam mais leves, e em sapatilhas de atletismo da alemã Puma, que contou com engenheiros da equipe de Fórmula 1 da Mercedes tanto para inovação em design como na inclusão de fios de fibra de carbono nos calçados – a mesma fibra usada nos carros de F1 conduzidos pelo piloto Lewis Hamilton. A sola da sapatilha também possui uma placa de carbono, projetada pela Mercedes, e pesa 135 gramas – 35 gramas a menos do que o modelo anterior.
Em Tóquio, a linha Evospeed Tokyo Future Faster+ estará nos pés de atletas como o corredor norueguês Karsten Warholm, recordista mundial, campeão mundial e europeu, e o velocista canadense Andre De Grasse, medalhista olímpico de prata.
No bolso, as sapatilhas pesam um pouco mais. O modelo é vendido nos Estados Unidos e na Europa por € 200.
Desde a Olimpíada de Londres, em 2010, os nadadores tiveram de deixar de lado os “supermaiôs”, que cobriam boa parte do corpo, e passaram a usar somente bermudas acima do joelho com material têxtil que não tenha poliuretano como matéria-prima, já que a combinação com náilon e elastano formava uma camada de ar que ajudava na flutuação dos atletas.
A tecnologia também evoluiu no preparo físico e mental dos atletas brasileiros. Desde a Rio 2016, o Laboratório do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) dobrou o número de biomarcadores, analisados com amostras de sangue ou urina dos competidores, de 50 para 100. “Biomarcadores como o nível de creatinina [substância que indica alterações nas funções renais] ou que indicam lesão muscular nos dão uma visão precisa do que o atleta está vivendo naquele momento”, explica Marcelo Freitas, supervisor de análise de desempenho do Laboratório Olímpico do COB. “Há uma preocupação grande com o clima, muito quente e úmido, em Tóquio, e a avaliação bioquímica ajuda na adaptação”, afirma. Os resultados dos exames saem entre 1 e 12 minutos.
Outra novidade este ano são jogos on-line desenvolvidos especialmente para trabalhar a concentração e a ansiedade dos atletas. “A equipe desenvolveu joguinhos específicos para trabalhar o lado emocional e o foco na modalidade de cada atleta”, diz Freitas.
A análise bioquímica passou a ser cruzada com softwares de análise de performance dos esportistas, como Sportscode e Dartfish, especialmente em esportes coletivos.
Usando câmeras que capturam os movimentos do atleta em múltiplos ângulos e sensores como uma placa do tamanho de uma moeda presa ao uniforme é possível medir indicadores como quantidade de arremessos, passes, saltos altos e curtos em uma partida de basquete, por exemplo, em tempo real. “A análise cruzada de dados como o número de saltos e a frequência cardíaca é feita posteriormente”, explica o supervisor do laboratório do COB.
Profissionais que atuam nos bastidores dos jogos também contaram com uma forcinha da tecnologia. O exoesqueleto Power Assist Suite, desenvolvido pela japonesa Panasonic, ajuda a reduzir em 20% a carga de equipamentos que precisam ser montados por equipes de preparação de competições como levantamento de peso. Segundo Fabio Ribeiro, diretor de marketing da Panasonic no Brasil o, exoesqueleto tem aplicações para o mercado corporativo. “Ele pode ser usado por pessoas que carregam peso em empresas transportes, logística e fábricas”, afirma.
Responsável pela infraestrutura de áudio e vídeo da Olimpíada, incluindo tecnologias de reconhecimento facial para acesso aos jogos e projetores de alta definição usados na abertura e no encerramento, a Panasonic também dá conta de toda a captação de imagens do evento, transmitido pela primeira vez em resolução 4K. Este ano, mais de 18 milhões de brasileiros poderão assistir à Olimpíada em 4K, estima a consultoria GfK, o que representa 14,3% dos 126 milhões de televisores em uso no país, segundo a consultoria.
Os telespectadores também poderão visualizar detalhes de competições de atletismo, na sequência das provas.
Usando quatro câmeras que captam os movimentos dos corredores, a tecnologia 3D Athlete Tracking, desenvolvida pela fabricante de microprocessadores Intel, cria uma camada de informações em 3D sobre os movimentos do atleta, como o nível de aceleração na corrida. “Isso deve ser entregue em 20 segundos para a transmissão”, diz Rick Echevarria, vice-presidente de vendas e marketing e diretor do programa olímpico da Intel.
“Tivemos que otimizar cada aspecto da performance tecnológica porque isso demanda armazenamento e processamento de dados muito rápidos”, explica o executivo, que prevê aplicações da tecnologia para a prevenção de acidentes, por exemplo.
Outras inovações da empresa, como óculos de realidade aumentada que exibem a faixa do recorde mundial de natação a quem estaria na arquibancada, ou drones que captam imagens em 4K de competições náuticas e transmitem via redes 5G para quem está à beira da água, não serão tão aproveitadas por conta das restrições ao público, impostas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), diante da alta nos casos de covid-19 em Tóquio.
“Entendemos que são decisões que a organização do evento deve tomar e teremos muito mais pessoas assistindo aos jogos por dispositivos conectados, o que torna o nosso trabalho ainda mais importante”, diz o executivo da Intel.
